Santo de Ponta Cabeça

SANTO DE PONTA CABEÇA

Relatório

Na cultura popular, Santo Antônio tem a fama de encontrar coisas perdidas. Por que não um grande amor? Só que o santinho tem o seu tempo, que pode não ser o mesmo da pessoa apaixonada. Para agilizar o cumprimento dos favores, é comum que o povo se utilize de um conjunto de estratégias mágicas: a magia simpática ou simpatia.

Uma simpatia é um ato de construir uma relação de continuidade entre o mundo material e o mundo mágico, fazendo com que a realidade se transforme. Exemplos clássicos são os de martirizar a estátua do santo para que ele cumpra com os pedidos: tirar o menino Jesus de seu colo, congelar a escultura, virá-la em um copo d’água e assim por diante.

Conforme a historiadora Laura de Mello e Souza, essas práticas que ela nomeia “formas afetivizadas de religiosidade popular” começam a desaparecer na Europa no final do século XVIII, mas persistem nos países colonizados especialmente por conta da devoção aos santos e à Virgem Maria.

Como bem lembra a autora, o santo que se venera é também aquele que, no toma-lá-dá-cá, pode-se atirar num canto, xingar, odiar em rompantes de cólera ou de insatisfação. É afeto até demais!

Na quadrilha das festas juninas, cantamos desavisados: “Eu pedi numa oração, ao querido São João, que me desse um matrimônio. São João disse que não, São João disse que não, isso é lá com Santo Antônio”. Os mais experientes, no entanto, sabem que a fama de Antônio é de encontrar amores, não de mantê-los. Por isso ficou famosa a trovinha: “Meu Santo Antônio querido, eu lhe peço por quem sois. Dê-me o primeiro marido, que o outro arranjo depois”. Quem quer mesmo um bom santo casamenteiro recorre a São José.

Segundo a sua hagiografia, que é como são chamadas as biografias dos santos, Fernando Antônio de Bulhões – aquele que viria a ser conhecido como Santo Antônio de Pádua – nasceu no século XII em Lisboa. Ao longo de sua vida ficou conhecido como o protetor dos pobres, pois tinha o costume de pegar os pães do convento e distribuir entre os famintos. O ato se traduz ainda hoje, quando as paróquias distribuem todo dia 13 os pãezinhos de Santo Antônio.

A data faz referência ao próprio dia de Santo Antônio, celebrado em 13 de junho, fazendo parte do ciclo da festa junina. Nas cidades que tem o santo como seu padroeiro, é comum que se celebre o período com a venda do bolo em sua homenagem. A receita varia, mas com frequência será um pão de ló com recheio de doce de leite e cobertura de chantilly. O detalhe, e que o torna tão procurado, são as prendas: dentro dos bolos a paróquia esconde centenas de alianças, medalhinhas ou bonequinhos de Santo Antônio. Quem encontrar casará dentro de um ano.

Interessante é ver como, em momentos de adversidade, a cultura popular busca se adequar para permanecer viva. Durante a pandemia, o município de Campo Grande/MS, foi um dos que manteve a tradição de maneira adaptada. Por três anos o bolo de Santo Antônio foi vendido na forma de bolo de pote, com 500 alianças distribuídas aleatoriamente entre os pedidos. Já garantiu a sua?

SANTO DE PONTA CABEÇA

Tipo: Saberes

Habilidade:
Simpatia casamenteira. Procure, no baralho, por uma carta Gente e invoque-a diretamente no campo. Embaralhe depois disso.

Efeito: Busca

Citação: "S. Antônio, querido, eu vos peço, por quem sois: dai-me o primeiro marido, o outro arranjo depois."

Artista: André Vazzios

Carta de Santo de Ponta Cabeça. Com ilustração mostrando uma estatueta de Santo Antonio com ele de ponta cabeça mergulhado em um copo dágua. No fundo, uma janela fechada e com uma cortina branca, e uma porta de madeira aberta mostrando um caminho até uma árvore bem distante e uma lua crescente no céu.

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Fontes

– SIMAS, Luiz Antônio. Santo de casa: fé, crenças e festas de cada dia. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2022.
– SOUZA, Laura de Mello. O Diabo e a Terra de Santa Cruz − Feitiçaria e Religiosidade Popular no Brasil Colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
– VARAZZE, Jacopo de. Legenda Áurea. Vidas de Santos. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.