Berrador

Ilustração: Marcel Bartholo

BERRADOR

Relatório

O Bradador, também chamado Berrador ou Gritador consiste em uma visagem cuja voz se ouve ecoando pela noite. Sua forma é incerta, como acontece com muitos mitos também ligados ao ato de gritar pelo mundo afora. Afinal, a imaterialidade da voz ultrapassa qualquer necessidade de uma fixação clara sobre a aparência destas criaturas.

Em Portugal, Luís da Câmara Cascudo nos recorda que a literatura registra uma “Zorra Berradora”; que pela etimologia muitas vezes é descrita como raposa (“zorro”), mas em outras versões é uma alma penada com muitos pecados em vida. Quem comete escuta seu grito à noite e não o respeita é duramente perseguido e castigado.

Na Argentina, existe o Kaparillo – cujo nome vem do Quichua e significa “gritar”. Igualmente sem forma, o monstro é por vezes descrito como uma “bola de carne” que imita o grito de humanos e animais para, com esse estratagema, se aproximar de suas vítimas quando o chefe da família está fora.

Por sua vez, nosso Bradador tem várias versões. Alguns dizem que era um vaqueiro que saiu para trabalhar durante a Sexta-Feira Santa e foi amaldiçoado. Seus gritos são sua tentativa de aboiar a gadaria invisível.

Alguns registros sugerem que o Bradador seja o espírito de um Corpo-Seco, ou seja, de uma pessoa que cometeu tantos pecados em vida que teve o corpo recusado pela terra. Esta versão corrobora com a versão portuguesa da expiação dos pecados.

Mas como funcionaria essa dualidade corpo-seco/bradador? A tradição parece apontar que o corpo-seco volta ao mundo apenas para cometer maldades, incapaz de lamentar seus atos anteriores. Já o Bradador vive em contrição. Por isso ele berra: chora por todos os males que causou em vida e que agora o fazem cumprir pena na morte.

Baixe a imagem em HD