Ilustração: Murilo Mendes
MAOZÃO
Relatório
Maozão é o nome pelo qual é conhecida a visagem protetora das matas que habita, especialmente, o Pantanal da Nhecolândia no Mato Grosso do Sul. Quem pergunta sobre ele nas comunidades do entorno, no entanto, não encontraram quem o reconheça. Referem-se, com maior presença, ao “Pai do Mato”, um nome que muitas vezes congrega todas as visagens semelhantes.
A coleta de narrativas orais no Pantanal compila características comuns. Maozão é um mito do tipo Bicho-Homem. Quando é mais humano, dizem-no ser uma pessoa negra. Quando é mais animalesco, é totalmente peludo. Muito alto e de grande porte físico, a visagem não possui mãos enormes, mas sim poderosas. Aquele que tem sua cabeça tocada por ele fica transtornado e se perde na mata. Quando encontrada, a pessoa está emudecida, alheia, e demora a recobrar a razão.
A visagem, por vezes, lembra aos humanos que é preciso pedir permissão para entrar no território que protege. Maozão aparece impedindo a ação de caçadores que desrespeitam as normas sociais – especialmente a de não caçar mais do que precisa para comer. É comum histórias em que desafie os homens, enfrentando-os com lambadas de cipó ou rabo de tatu.
Álvaro Banducci Jr. recolhe um causo em que um homem consegue lenhar o monstro com seu facão – que fica sujo de sangue preto. Maozão interrompe a luta, alerta para que o sujeito nunca mais viole a mata, e orienta para que guarde o facão sempre consigo. “É uma defesa que cê tem prá qualquer efeito”.
Dizem que o Maozão é capaz de assumir forma de animal, especialmente de anta. E é também na forma deste bicho que carrega pessoas para o fundo da mata. As crianças que ele sequestra trazem como peculiaridade o envelhecimento precoce. Passam-se dias, mas os cabelos do pequeno cresceram como se fossem meses. A criança, todavia, está incólume: roupas limpas e bem alimentada. Afinal, a anta lhe trazia mel e frutas para comer.
Para escapar dele, basta atravessar um curso d’água. O Maozão, como muitas outras visagens, é incapaz de atravessar água corrente.