Boitatá-Boi

Ilustração: Junior Araújo 

BOITATÁ-BOI

Relatório

A palavra Boitatá é um termo de raiz Tupi, que vem da junção de M’boi (cobra) ou Mbae (coisa) e Tatá, que significa fogo. Por isso, desde seu primeiro registro em 1560, fala-se de uma cobra de fogo que persegue os transeuntes. Um fogo-fátuo em terras brasileiras.

No entanto, estamos falando de oralidade. Narrativas que são passadas pela tradição e que se espalham no boca a boca. Para aqueles que conheciam o Tupi, ou ao menos o Nheengatu (a língua geral, que misturava português com idiomas indígenas), a presença da serpente era evidente. No entanto, para quem não tinha esse domínio, espalhava-se a crença de que era um boi, não uma cobra, que assolava os viventes.

Percebemos isso especialmente em comunidades açorianas, como em Florianópolis, em que o folclorista Franklin Cascaes encontra bois e novilhos de fogo na sua coleta de tradições populares. Entre populações caiçaras, em São Paulo, Oswaldo Xidieh também faz registros semelhantes:

– “Existe um boi que não é coisa dos vivos; é um boi assombração que em certos dias da semana aparece à beira das estradas para assustar e atormentar as pessoas que por ali passaram. É grande e escuro e traz em cada chifre uma tocha de fogo que, às vezes, viram numa só e grande labareda. Seus urros são feios e, quando corre, seus cascos batem no chão como se fossem de ferro. Costuma ficar escondido perto do cemitério e gosta de aparecer nos dias de festa, altas horas da noite, para assombrar os retardatários que regressam às suas casas”.

No dia 6 de janeiro de 1947, quando assistimos à festa de São Benedito naquele bairro, tivemos a oportunidade de verificar o horror que a aparição provoca entre os caiçaras. Assim que terminou a festa, as famílias regressaram aos seus ranchos. Subitamente, em tropel e gritaria, uma delas voltou espavorida pedindo pouso na vila. Depois que contaram o que lhe havia acontecido, não lhe faltou pousada: – “Logo na saída da vila, um pouco antes do cemitério, o boi tinha aparecido, bufando, escavando o chão com suas patas de ferro e soltando línguas de fogo pelos chifres… e não tiveram coragem de continuar”.

A uma pergunta nossa, responderam: – “De certo que é um boi e dos bem grandes e escuros. Não mata ninguém, mas persegue a gente até tirar o fôlego”.

– “Mas é mesmo um bicho?” – Insistimos

– “Sim, é um bicho boi, por isso tem o nome de boi de fogo”.

Baixe a imagem em HD