Ilustração: Paulo Nobitz
TRÊS PULINHOS
Relatório
Uma das mais conhecidas simpatias para localizar objetos perdidos na cultura popular brasileira é a de São Longuinho. Ao custo de três pulinhos (ou mais, vai do acordo estabelecido) a pessoa pede a intercessão do santo. Em outras versões, são três gritinhos, o que parece ser uma mera derivação. Mas de onde vem esta tradição?
Primeiro um pouco sobre São Longuinho. Longinus teria sido o soldado que, para confirmar a morte de Jesus, gravou uma lança em seu peito, de onde escorreu água e sangue. Na Lenda Dourada, o livro medieval de hagiografias (as biografias dos santos) conta-se que Longinus teria um olho ruim, e que recebeu respingos do sangue divino. Passou então a enxergar perfeitamente e largou o exército de Pilates, se convertendo ao cristianismo.
Ver com perfeição após receber o sangue de cristo é metáfora e símbolo direto de um caminho de retidão e clareza que passou a ser seguido. Por isso aqueles que desmerecem a história dizendo que “se fosse cego, jamais ele seria soldado” não entenderam do que a narrativa realmente fala.
Um outro detalhe sobre o corpo do santo que ganhou coro na cultura popular diz que ele seria manco de uma perna. Ou que realmente não tinha uma das pernas! E daí que se deriva a simpatia – um ato mágico baseado na correlação física entre o praticante e quem sofre o efeito. Para encontrar o que foi perdido, homenageamos o santo sem perna pulando em um pé só! O três também trás toda uma relação: sejam os três condenados que morreram na cruz, seja a própria santíssima trindade. Por isso muita estátua do santo tem apenas uma perna.
No Brasil, a única igreja dedicada a São Longuinho é a capela de “Nossa Senhora da Escada”, no município de Guararema. A festa de São Longuinho acontece no dia 15 de março.