Ilustração: Ju Loyola
TANGARÁ DANÇARINO
Relatório
Quando nós saímos do norte
Foi pra no mundo mostrar
Como canta aqui nesta terra
Um bando de tangarás
– Vamo falla do norte
Almirante e Braguinha
O mito de origem deste pássaro, notório pelos belos movimentos que faz para impressionar a fêmea, remete ao folclore católico. Dizem que os primeiros tangarás dançarinos (Chiroxiphia Caudata) foram a família dos filhos de um fazendeiro chamado Chico Santos.
Os membros da família eram conhecidos por sua paixão pela dança, chegando a interromper o trabalho nas plantações para fandangear. No entanto, existe hora e momento certo para tudo: tempo de brincar e tempo de se recolher. E nas comunidades de influência católica, especialmente nos tempos antigos, a quaresma era justamente este momento de reclusão.
A tradição diz que, em consternação pelo sofrimento de Jesus, os devotos devem cumprir uma série de penitências. Elas vão desde o jejum de carne bovina até coisas mais frugais, como não dar risada e, é claro, não dançar. Afinal, se Cristo estavas sofrendo, brincar e festejar era entendido como uma ofensa direta.
Todas estas proibições ficam ainda mais intensas em um momento: a Semana Santa. A semana que antecede a Páscoa e, com ela, a ressureição. Só que isso nunca impediu a família de Chico Santos, que sempre dançaram e fandangueram como nunca. Mesmo com a tradição ameaçando de que os que rompem o interdito se transformariam em monstros, cresceriam rabo de burro e outras promessas semelhantes.
Certa vez, no entanto, o castigo veio. Deus enviou uma epidemia de varíola, conhecida no popular como “bexiga”. Um a um, os parentes foram morrendo. E logo depois, aparecia um passarinho novo no entorno da casa; um pássaro azul e preto, com uma coroa vermelha, que dança desesperadamente para chamar a atenção da fêmea.
Inspirado pela narrativa, o grupo Bando de Tangarás foi criado em 1929 no Rio de Janeiro. O conjunto tinha entre seus componentes aqueles que viriam a ser grandes nomes para a música popular brasileira, como Almirante, Braguinha (João de Barro) e Noel Rosa.