PEÃO DE COMITIVA
Relatório
A fogueira, a noite
Redes no galpão
O paiero, a moda,
O mate, a prosa
A saga, a sina
O “causo” e onça
Tem mais não
Ô peão…
– Peão (1986), por Almir Sater e Renato Teixeira
Como lembra Augusto César Proença, no Pantanal, tudo depende das águas: “São elas que condicionam os diversos tipos de lida, levam o homem a ter necessidade de mudanças nas grandes enchentes, modificam os solos, obrigam certas aves a migrar para outros lugares do planeta, empurrando o gado para cima das cordilheiras, quebram a monotonia da planície, ilhando muitas fazendas”.
O que acontece é que o Complexo do Pantanal é um bioma brasileiro caracterizado por dois momentos nítidos de transformação da paisagem. A “cheia”, de dezembro a março, e a “vazante”, de abril a junho. Durante a primeira, os rios transbordam e alagam até dois terços da planície pantaneira. Quando as chuvas se interrompem, a água passa a se dispersar lentamente, retornando à sua posição original.
A fauna e a flora silvestres, que evoluíram preparadas para este ambiente, têm adaptações que permitem a sua continuidade. Mas e quanto aos animais que ali foram introduzidos pelo ser humano?
Os bois são introduzidos na região de Mato Grosso uno a partir de 1719, com prenúncio da vocação agropecuária da região. Segundo estimativas, atualmente, existem 3,8 milhões de cabeças de boi apenas na região do Pantanal. Para o devido manejo destes animais entre os períodos de cheia e vazante, muitos fazendeiros possuem duas propriedades: uma nas partes baixas, onde o pasto vai ser mais viçoso devido às cheias que nutrem a terra; outra nas partes altas, para resguardar a criação, quando necessário.
Para movimentar os animais de uma propriedade a outra, ou mesmo para levá-los para a venda em leilões, é comum que se recorra ao trabalho das comitivas de peões. Quando um peão mora na fazenda e lá exerce seu ofício, é chamado de “campeiro”. Já quando viaja conduzindo o gado, temos o chamado peão “boiadeiro”. E é ali, vivendo no estradão, dormindo ao relento, acompanhando a gadaria, que eles vivenciam e contam histórias de visagens e assombrações; causos e anedotas.
A cultura popular do peão de comitiva também se manifesta nos fazeres. Muitos são grandes artesãos e utilizam com maestria o couro de boi, para fazer suas rédeas, laços, arreios e bruacas. Com a lã do carneiro, fazem o pelego para proteção das selas da montaria – normalmente, burros.
Outro costume é o consumo da erva-mate moída. Quando bebida com água gelada, temos o tereré. Já quando a consomem com água quente, infusionando a erva, chamam a bebida apenas de “mate” (e não “chimarrão”, como os gaúchos). A beberagem é servida numa guampa, um chifre de boi, e tomada com bombas de metal, que funcionam como um canudo com filtro ou peneira na extremidade.
Os peões se dividem em várias funções na comitiva, e uma das mais importantes – e mais perigosas – é a do Ponteiro. Ele é o Guia, o que vai à frente da boiada, e é o único que carrega um berrante. O instrumento é feito do chifre de boi, e ele é tocado para auxiliar na condução da boiada e para comunicação com os outros boiadeiros. O perigo, no caso, está no estouro da manada; como o Ponteiro anda na frente, é ele que costuma ser a vítima.
Para conseguir emitir sons, o berranteiro precisa dominar a embocadura do instrumento, produzindo sons graves ou agudos. Existem alguns toques consolidados, que têm sua função estabelecida.
Toque de Saída ou Do amanhecer serve para a retirada do gado do mangueiro ou para despertar a boiada pela manhã. O Estradão, para reanimar a boiada na estrada. Temos, ainda, o Toque do Almoço ou Queima do Alho para avisar o momento de parar para a refeição; o Alerta ou Rebatedouro, para avisar de qualquer perigo; e, é claro, o Floreio. Este não tem função direta, é um toque livre, de divertimento.
PEÃO DE COMITIVA
Pontos de Força: 2
Pontos de Vida: 3
Tipo: Gente
Elemento: Água
Habilidade:
Envie uma carta da Mão para o Beleléu. Até o fim do turno, esta carta valerá por duas, ao enfrentar qualquer Desafio. A carta vai para o Beleléu depois disso.
Efeito: Parceria
Citação: "Quando a Comitiva Esperança chega, você já sabe o que esperar!"
Artista: Augusto Figgliagi
Fontes
– DUARTE, Alexsander Jorge. De sinal sonoro a marco sonoro: a recontextualização do berrante no Brasil e sua presença na música raiz do centro-sul brasileiro. Post-ip: Revista do Fórum Internacional de Estudos em Música e Dança, v. 2, n. 2, 2013, p. 9-20.
– LEITE, Maria Oliveira Ferreira. Comitiva de boiadeiros no Pantanal Sul-Mato-Grossense: Modos de vida e leitura da paisagem. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental, USP, São Paulo, 2010.
– PROENÇA, Augusto. Pantanal: Gente, tradição e história. 3. ed. Campo Grande: UFMS, 1997.