Palhaço de Folia

PALHAÇO DE FOLIA

Relatório

Palhaço de Folia é um dos vários nomes pelos quais são conhecidos os brincantes mascarados que integram as Folias de Reis. Dependendo da região do Brasil, eles também podem ser conhecidos como Bastiões, Cireneus ou Marungos. E cada um revela, em seu significado, um pouco mais sobre esse personagem misterioso.

Cireneu faz referência a “Simão de Cirene”, o carregador da cruz. Ele foi um homem obrigado, pelos soldados romanos, a carregar a cruz de Cristo até o Gólgota − local onde Jesus foi crucificado. O Cireneu mascarado é, assim, um penitente. Não é sem motivo que é muito comum que as pessoas assumam a figura do palhaço (uma das mais controversas da folia) justamente para pagar uma promessa.

Já Bastião é um dos nomes genéricos pelos quais personagens ligados ao povo negro são normalmente batizados em contos e brincadeiras populares. É uma corruptela de “Sebastião” e serve para nos mostrar como a Folia, apesar de ser uma festa fundamentalmente católica e introduzida pelos portugueses, recebeu tanta influência do negro, que seu brincante mais notório passou a ser reconhecido como um.

Essa influência está nas danças, no ritmo, nos tambores e no próprio povo. Interessante notar ainda que muitas folias visitam terreiros de umbanda e candomblé e prestam suas homenagens aos orixás, assim como prestariam aos santos que encontrariam ao visitar uma casa católica. Um importante sinal de respeito e integração.

Mas o que realmente revela a influência afro-brasileira no Palhaço de Folia é o último nome: Marungo. Sua origem é da palavra “malungo”, usada pelos negros escravizados no Brasil Colônia no sentido de companheiro, irmão de criação, pessoa na mesma condição. Meu malungo. Meu marungo. A etimologia viria da língua do Congo: partilhando radicais com palavras que significariam vizinho e navio. Intelectuais como o pernambucano Pereira da Costa suporiam, então, que se trata de uma referência àqueles que passaram pela mesma experiência dos navios negreiros.

Já quanto à Folia de Reis, ela também possui vários nomes. Ela pode ser chamada genericamente de “Reisado”, mas é importante não confundir com o “Reisado do Congo” – como são chamadas as festas de coroação de reis e rainhas africanos. Outras vezes, são chamadas de “Terno de Reis”, o que faz referência aos Três Reis Magos, aqueles que vieram do Oriente guiados pela Estrela de Belém, para presentear o menino Jesus.

Há ainda um outro nome, talvez menos comum: “Caravana de São Francisco de Assis”. O lastro disso é histórico: as folias chegaram ao Brasil por meio dos jesuítas, durante os esforços de catequese na colonização dos povos indígenas. E foram duas as suas influências principais: o teatro português de Gil Vicente e os presépios vivos − encenação criada por São Francisco de Assis, em 1223.

Existem algumas tentativas de identificar uma regra nas nomenclaturas. O “Terno de Reis”, supostamente, não teria palhaços, e assim por diante. Na prática, todavia, o povo é muito menos rígido com esses limites. Vai de grupo para grupo. Alguns mestres de Folia possuem mais de uma dezena de palhaços em suas companhias. Outros, por sua vez, não possuem nenhum e rejeitam o brincante tanto por sua irreverência quanto pelo seu caráter profano.

Existem várias narrativas tradicionais que explicam o surgimento dos palhaços. Em alguns lugares, eles vão ser vistos como diabos; em outros, como o próprio Herodes, o Grande – aquele que mandou matar todas as crianças com menos de 2 anos, quando soube do nascimento de Jesus. Em uma das versões mais conhecidas, eles seriam, na verdade, os soldados de Herodes − enviados para espionar os Três Reis Magos em sua busca por Jesus. Seu objetivo era, ao descobrir o local do nascimento de Cristo, voltar e entregar sua posição, para que o rei da Judeia o matasse.

No entanto, a tradição diz que eles se arrependeram, converteram-se ali mesmo e passaram a despistar os perseguidores. Por isso é que, em algumas regiões, a tradição manda os brincantes de Folia a nunca voltarem pelo mesmo caminho que fizeram ao visitar os presépios casa a casa. Para além disso, o papel do festeiro é, simbolicamente, distrair as ameaças e permitir a passada do cortejo.

A Folia de Reis acontece, especialmente, entre os dias 24 de dezembro e o Dia de Reis, em 6 de janeiro. Em algumas cidades em que São Sebastião é padroeiro, como é o caso do Rio de Janeiro, o dia do santo também entra na celebração, que tem saída especial no dia 20 de janeiro. As folias continuam atuantes, visitando casas e reunindo recursos para sua Festa de Arremate: o grande encerramento, aberto para a comunidade. Existem arremates que acontecem até o mês de junho.

Guia a folia um Mestre, acompanhado de Contramestre e do alferes, que leva a bandeira. Para os mais tradicionalistas, o palhaço nunca deve passar na frente da Bandeira – o que sempre gera comentários maldosos quando acontece.

PALHAÇO DE FOLIA
Pontos de Força: 1
Pontos de Vida: 6

Tipo: Gente
Elemento: Fogo

Habilidade:
Quando esta carta é invocada, você e o oponente não podem enfrentar o Desafio por um turno. Você neste turno, e ele no próximo.

Efeito: Pausa

Citação: "Não tenha medo do palhaço. Ele dança para chamar atenção dos soldados!"

Artista: Lorena Herrero (HET)

Carta de Palhaço de Folia, com uma ilustração mostrando uma pessoa caminhando com roupa azul, florida e colorida, uma máscara com barba e bigode roxa, um chapéu de aniversário, e segurando um pequeno bastão. Seguindo ele, varias pessoas com coroas na cabeça, uma tocando violão, e outra uma bandeira com uma estrela cadente vermelha e amarela.

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Fontes

– CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo: Global, 2012.
– GORZONI, Priscila de Paula. Os mascarados das Folias de Reis: uma análise das máscaras da Companhia Santa Cecília, de São Caetano do Sul no ABCD paulista, e da Companhia da Serraria, de São Thomé das Letras, no Sul de Minas Gerais (2009-2912). Dissertação (mestrado em Ciências da Religião), PUC-SP, São Paulo, 2014.
– LIMA, Rossini Tavares de. Folguedos populares do Brasil. São Paulo: Ricodi, 1962.
– NORONHA, Regina. O Natal no folclore brasileiro. Revista Geográfica Universal. Rio de Janeiro: Bloch, v. 109. n. 12, p. 17-25, 1983.
– PERALTA, Patricia. Palhaços & Personagens da Folia de Reis do Estado do Rio. Revista Interfaces, v. 8, n. 1, 2002.