Miolo de Boi

MIOLO DE BOI

Relatório

O boi está morto. Sua ausência no cotidiano da comunidade chega ao ápice durante a quaresma. Nesses quarenta dias de reclusão, não se canta, não se dança, não se ri. É o respeito ao sofrimento de Jesus, que enfrenta as tentações da carne no deserto. O jejum é espelhado, assim como a consternação e o silêncio. Mas a morte não é o fim, é o intervalo até o recomeço.

O Ciclo do Boi no Maranhão se inicia – ou se retoma – com a quebra na Quaresma, no Sábado de Aleluia. Um dia antes do próprio Cristo, é o animal que retorna à vida. Bumba, meu boi! O amo, dono do bicho, reúne seu rebanho. Convoca a comunidade para os primeiros encontros, em que se fala de boi, mas também de si. É a festa que retorna e, junto dela, a vida. No Nordeste, é época ideal para a colheita: feijão, arroz, milho. E não é o boi que, desde os tempos ancestrais, é força de tração que move a terra arada? Fartura. Alegria.

Os tambores são afinados na fogueira de São João. Os miolos do boi, que dão vida ao boi-boneco, assanham-se ainda mais, movimentando um séquito de personagens. Gente, bicho e bicho-gente. Os convidados dessa festa variam de lugar para lugar, mas a estrutura se repete. É um encontro de Brasil. Negros, indígenas e brancos; animais, monstros e até os mortos. Todos têm lugar nessa festa que, ano após ano, retoma um ciclo de vida, morte e renascimento.

Este é o Bumba Meu Boi, a mais “estranha, original e complexa” das danças dramáticas brasileiras, como disse Mário de Andrade. Em levantamento recente, foram encontrados mais de 430 grupos em 79 municípios maranhenses. Divididos, de alguma maneira, em ao menos cinco “sotaques”, que são estilos de festejar e cantar o boi: sotaque da ilha, da baixada (ou Pindaré), de costa de mão, de zabumba (ou de Guimarães) e de orquestra.

“Miolo” é o nome que se dá ao brincante que controla o boi-brinquedo nas festas do Maranhão. Afinal, é o que fica “dentro” do boi, certo? Em outros lugares, como em Parintins, também se chama esse festeiro de “Tripa”.

Grande destaque da festa maranhense é o “couro do boi”, o tecido ricamente enfeitado que vai por cima da capoeira ou carcaça (a armação da peça). Os enfeites que o adornam são feitos de canutilhos coloridos, formando desenhos variados – muitas vezes, em homenagem a santos e outras temáticas devocionais.

A festa do Bumba Meu Boi é fundamentalmente junina. É nesse período que ocorre o ritual de morte e ressurreição do boi, com o seu couro sendo, por vezes, simbolicamente destruído antes de seu retorno. É um marco de um novo ciclo de ano a ser retomado.

MIOLO DE BOI
Pontos de Força: 4
Pontos de Vida: 4

Tipo: Gente
Elemento: Terra

Habilidade:
Quando esta carta vai para o Beleléu pela primeira vez (como resultado de um Desafio), ela permanece em campo, até ser derrotada novamente.

Efeito: Insistência

Citação: "O boi está morto. Viva o boi!"

Artista: Waldeir Brito

Carta de Miolo de Boi, com a ilustração bem colorida mostrando um homem de camiseta verde, calça jeans e um boné com a bandeira de Maranhão. Ele segura uma fantasia de um boi enfeitado por sobre a cabeça, de onde sai uma capa avermelhada esvoaçando da fantasia. No fundo um ambiente azulado com aspecto de festa junina, com fogos de artificios e bandeiras.

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Fontes

– ANDRADE, Mário. As danças dramáticas do Brasil. São Paulo: Itatiaia/Instituto Nacional do Livro/Fundação Pró-Memória, 1982.
– CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro. O Boi em dois tempos. O Bumba-meu-boi em Mário de Andrade e o Bumbá de Parintins na Amazónia hoje. Todas as Artes. Revista Lusobrasileira de Artes e Cultura, n. 1, v. 1, 2018, p. 112-129.