Matinta Pereira

MATINTA PEREIRA

Relatório

A Tapera naevia dá origem a uma série de superstições e crenças pelos territórios em que entoa seu canto lúgubre. Nos países vizinhos, vai dar forma, especialmente, ao Silbon (o Assobiador), assim como ao Yasy Yateré, com seu apito no cajado de ouro. No Brasil, o assovio fica por parte do Saci-Pererê. Já o agouro do seu canto dá origem a outra visagem: o pássaro-bruxa Matintapereira.

Percebam como os últimos nomes mencionados são muito próximos sonoramente. Yateré, Pererê, Pereira… todos são, entre outros sentidos etimológicos, variações da onomatopeia de uma das vocalizações deste pássaro. As mais agudas podem ser ouvidas como Saci, Crispim, Sem-Fim, Mati; já as mais longas trazem a cadência dos sobrenomes compostos.

Apesar de a Tapera naevia fazer parte da família dos cucos, é muito comum que outros pássaros sejam vinculados à transformação desta visagem. O povo costuma falar em “pássaro preto”, como um corvo, remetendo a um imaginário de bruxa já midiatizado. Outros, como Câmara Cascudo desmente no “Dicionário”, vão falar que a Matinta é uma pequena “coruja”. Por vezes, aproxima-se à própria Suindara ou Rasga-Mortalha (que nada tem de pequena).

A tradição diz que quem escuta o canto da Matinta vai sofrer com uma série de infortúnios. Para se livrar do bruxedo, é comum oferecer a ela um presente. O povo pede para que a visagem volte no outro dia, para buscar tabaco ou sal. É assim que se descobre quem é a Matinta da vizinhança.

Esta, no entanto, é uma das maneiras de se narrar o mito – e a mais conhecida pelo país. No entanto, a Matinta tem inspirado narrativas no imaginário popular já há muito tempo. O registro escrito mais antigo sobre uma versão de Matinta é de 1885, feito pelo padre Geraldo Tocantins. Em seu texto, escrito na interpretação religiosa da cosmologia indígena, ele explica que, para os Munduruku, quando uma pessoa morria, ia para o pós-vida.

Às vezes, contudo, alguns destes espíritos voltavam a terra. Quando o faziam, era ou na forma de trovão ou na forma de Matim-Tapirera, para caçar durante a noite. É por isso que podemos ouvir, durante a noite, o som de uma ave noturna que parece repetir continuamente o seu nome. Temos, então, o entendimento de que Matinta era um ancestral.

Métraux, em 1950, escreve: “Os tupinambás sentiam supersticioso temor por certa espécie de ave que, a julgar pelas descrições, pode ser identificada com o matim-tapirera”. A ave passava por mensageira dos parentes já falecidos, e os seus trinados eram interpretados como ordens do além-túmulo. Uma encarnação do espírito dos mortos. A escolha de palavras de Métraux deixa um pouco confusa a ação das matintas. Ao se “passar por mensageira”, ele estaria dizendo que esse atributo era falso? Seriam as mensagens da ave um engodo?

Registros de aves sinistras para os indígenas permeiam os relatos desde o início da colonização portuguesa. A título de exemplo, o calvinista Jean de Lery, ainda no século XVI, fala do medo que os indígenas teriam de Acauã – ave conhecida pelo seu canto lamentoso. Ainda hoje, a ave é tida como uma das mais amaldiçoadas do sertão.

Dizem que, quando está prestes a morrer, a Matinta entoa um canto em que se escuta a mensagem: “Quem quer? Quem quer?”. A pessoa que for gananciosa o suficiente para aceitar o que lhe oferece, sem ao menos saber do que se trata, vai assumir a maldição e se tornará a nova Matinta.

MATINTA PEREIRA
Pontos de Força: 1
Pontos de Vida: 2

Tipo: Visagem
Elemento: Noite

Habilidade:
No turno do seu oponente, envie esta carta de sua Mão para o Beleléu, para anular o efeito de qualquer carta Poranduba utilizada pelo oponente.

Efeito: Proteção

Citação: "'Passe aqui amanhã, Matinta!'. E emendou, baixinho: 'O que é seu está guardado...'"

Artista: André Vazzios

Carta de Matinta Pereira. Com Ilustração mostrando uma criatura meio mulher, meio pássaro. Ela possui rosto humano e cabelos grisalhos, suas mãos são uma fusão de membros humanos com patas de aves, e ela possui uma asa esticada saindo das costas. Ela está com uma feição ameaçadora, com a boca aberta. Em um cenário noturno com a terra seca, uma árvore seca ao fundo do lado de uma casa pequena. No céu roxo, uma lua cheia.

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Fontes

– CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo: Global, 2002.
– FARES, Josebel. Imagens da mitopoética amazônica: um memorial das matintas pereras. 1997. 180 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Mestrado em Letras, Centro de Letras e Artes, Universidade Federal do Pará, Belém.
– MÉTRAUX, André. A religião dos tupinambás. São Paulo: Brasiliana, 1950.
– SILVA JUNIOR, Fernando. Representação feminina no mito da matintaperera em Taperaçu Campo, Bragança (PA). Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Linguagens e Saberes na Amazônia. Universidade Federal do Pará, Bragança, 2014.