Lobisomem Cachorrão

Ilustração: Eduardo Ferigato

LOBISOMEM CACHORRÃO

Relatório

Como podem existir lobisomens em um país onde não existem lobos? Nosso único representante entre esses canídeos seria o Lobo Guará, mas o animal nada tem a ver com um canis lupus europeu. Mais do que isso, as representações contemporâneas de um lobisomem guará são obras reimaginadas por artistas, mas nenhuma narrativa conta sobre uma criatura com essa aparência.

Em verdade, o lobisomem brasileiro tem muito pouco de lobo. E essa tradição tem grande relação com as versões do mito que vieram de Portugal. Em 1820, no livro Tradições Populares de Portugal, J. Vasconcellos recolheu inúmeras versões sobre os híbridos entre homem e fera – e várias delas inclusive conflitantes. Entre as histórias registradas, temos lobisomens lobo, cachorro, porco, bezerro e até mesmo pato.

Por aqui, representações notórias de lobisomem falam dele como sendo um grande cachorro de pelos duros, que anda com o quadril muito arqueado. Outra característica são as longas orelhas que, quando o monstro corre, estalam com força, indicando sua presença. O amaldiçoado que assume essa forma pode ser o sétimo filho homem depois de sete homens ou mesmo alguém atacado por um lobisomem.

Em Portugal, o lobisomem também é apenas uma das espécies de monstros híbridos com humanos. O eixo em comum que os une é sua maldição, ou fado. Após a transformação, os seres devem correr por sete freguesias, sete praças, sete igrejas e sete cemitérios. Por vezes o número não está presente, mas a sina desses amaldiçoados é correr pelos caminhos atacando e devorando. É por isso que é bastante comum o uso do termo “correr o fado” em Portugal para se referir a maldição das criaturas.

Além dos lobisomens, Tardos e Corrilários também correm o fado pelas terras lusitanas. Os tardos são crianças amaldiçoadas quando o padrinho, durante o batizado, não disse as palavras certas. Quando o fadário se manifesta, o Tardo se transforma em animal: cão, gato ou até mesmo cabra e vive nas encruzilhadas onde tenta atordoar as pessoas urinando em suas pernas. Se durante sete anos sua maldição não for quebrada, o tardo se transforma em lobisomem – e só então come gente. Já os corrilários são almas penadas que aparecem na figura de um cão. Se a pessoa morreu abruptamente de morte violenta, retorna como corrilário e vive os anos que ainda teria de vida como amaldiçoado.

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