ESPADA DE SÃO JORGE
Relatório
Cavaleiro supremo,
mora dentro da lua.
Sua bandeira divina,
manto da Virgem pura.
A Espada-de-São-Jorge, ou Espada-de-Ogum, é uma planta praticamente onipresente nos lares brasileiros. Mágica, com ela, você pode cortar de tudo que está ruim na sua vida: inveja, olho gordo ou mesmo uma decoração da sala malfeita. Quando bem tratada, além de deixar fluir boas energias na casa, a planta agradece com uma linda flor.
Seu nome científico mudou recentemente. Todas as plantas de sua família que eram tidas como Sansevieria hoje pertencem ao gênero Dracaena. A Espada tradicional, verde e rajada, é a Dracaena zeylanica. Quando conta com uma borda amarela em suas folhas, é a Dracaena trifasciata, a Espada-de-Santa-Bárbara ou de Iansã. Há ainda um terceiro tipo, a Lança-de-São-Jorge (Dracaena angolensis), quando é cilíndrica e pontiaguda.
Invariavelmente, todas acabam sendo tratadas como a mesma planta, pela referência a Jorge, mas há peculiaridades. A Espada-de-Santa-Bárbara atua na proteção contra raios, trovões, tempestades e mau tempo. Já a de São-Jorge é frequentemente relacionada à proteção contra o mau-olhado. Este mau-olhado, olho gordo, quebrante, tem consequências físicas na cultura popular. Além de atrair o azar, a pessoa pode ficar febril, afetada por uma doença sem causa aparente.
A planta é de origem africana e foi introduzida no Brasil durante a colonização. Sua forma, a qual parece uma lâmina, remete simbolicamente a Ogum, que, como lembra Marlúcia Rocha, é divindade dona das armas, senhor dos exércitos, protetor dos caminhos. Forja o ferro e o transforma em instrumento de luta. “É a representação do escravizado reprimido, apartado e isolado de sua terra”.
Ogum, pelo aspecto de guerreiro, é sincretizado com Jorge da Capadócia. Sua hagiografia, na tradição popular, diz que foi um menino órfão de pai que foi levado para a Palestina, onde serviu como militar à corte do imperador Diocleciano. O líder do Estado foi o responsável pela última perseguição oficial de Roma contra o cristianismo. Jorge teria se prostrado contra e se convertido ao cristianismo. No dia 23 de abril do ano 303, o imperador teria decretado sua morte.
A devoção que temos a Jorge é herança portuguesa, a qual, por sua vez, foi recebida dos ingleses – que o tinham por padroeiro. Uma das histórias mais conhecidas é a de sua luta contra um dragão. Dizem que, para aclamar a fome da fera, os moradores de uma região ofereciam duas ovelhas, que ele devorava por inteiro. Certa vez, o monstro tornou-se mais exigente e pediu a filha do rei como sacrifício. Jorge intercedeu e venceu a criatura.
Ferido, o dragão buscou refúgio na Lua. Jorge o perseguiu com seu cavalo, e as crateras que vemos no satélite terrestre são as marcas dos cascos do alazão.
ESPADA DE SÃO JORGE
Tipo: Saberes
Habilidade:
Quando uma de suas cartas for ser enviada para o Beleléu, mande esta no lugar dela. No caso de resultado de Desafios, ela substitui a com menos PVs.
Efeito: Proteção
Citação: "Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge..."
Artista: Bruno Brunelli
Fontes
– BORGES, Adão. Usos, significados e conservação da planta Espada-de-São-Jorge na comunidade quilombola Benevides/PA. Revista Relegens Thrésketa, v. 9, n. 2, 2020, p. 270-283.
– CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo: Global, 2002.
– ROCHA, Marlúcia Mendes da. Ogum. Revista KÀWÉ, n. 2, 2001, p. 14-16.