Enterros e Botijas

ENTERROS E BOTIJAS

Relatório

O fenômeno conhecido como fogo fátuo é, com certeza, um dos que mais inspira a criação de mitos e lendas no Brasil e no mundo. A decomposição de matéria orgânica acumula gases no solo que, quando liberados, podem causar fosforescência e queimar na forma de uma breve bola de fogo errante.

Isso, claro, é a explicação científica. No imaginário, surgem diversas outras formas de entender o ocorrido. Alguns vão perceber do facho de fogo um rastro semelhante a uma cobra, formando a conhecida Boitatá. Outros vão ver na chama fantasma alma de uma mulher; a mãe do ouro, que protege o lugar do tesouro enterrado.

Algumas pessoas vão atribuir uma origem indígena a esse mito. Isso se dá pois é muito comum entre os povos Tupi a ideia de que todos os elementos possuem uma mãe: a Mãe do Fogo, a Mãe da Coceira, a Mãe da Água… Assim, faria sentido pensar em uma Mãe do Ouro. No entanto, vale lembrar que essa valorização do ouro é algo que não é intrínseco aos povos originários.

Luís da Câmara Cascudo em seu Dicionário do Folclore Brasileiro colhe diferentes versões para o mito da Mãe do Ouro. Dentro das chamas ela pode aparecer como mulher sem cabeça, como serpente, lagarto ou mesmo sem aparência definida. Seu comportamento muitas vezes é descrito como o de uma sereia, capaz de seduzir os homens e fazer com que se percam nas morrarias em busca do ouro prometido. Outras versões vão falar que ela protege o local dos tesouros enterrados, sendo ao mesmo tempo a responsável por indicar o local prometido e também de evitar que ele seja roubado.

Para além da Mãe do Ouro, narrativas de espíritos que protegem tesouros enterrados existem em todo o território nacional. No Nordeste, estes tesouros são conhecidos como “Botijas”, palavra que significa “”vasilhame de barro”” e faz referência ao costume de esconder o ouro e as pedrarias na cerâmica antes de enterrá-la. Já no Centro-Oeste, na região de Mato Grosso do Sul, fala-se genericamente de “Enterros” – ou “Plata Yvyguy” quando se está mais na região de pronteira com o Paraguai. O termo é Guarani, e significa, justamente, “tesouro enterrado”.

Gilberto Freyre, em Casagrande e Senzala, descreve que a história das botijas está ligada aos antigos coronéis. De tão gananciosos, esses homens cruéis não conseguiam desapegar das riquezas materiais e ficavam eternamente ligados à terra.

Já no Mato Grosso do Sul, a relação é com a Guerra contra o Paraguai (1864-1870). Normalmente são tesouros enterrados desta época, sejam as posses de alguma família que morreu no conflito, seja o grande Tesouro Nacional – cujas lendas dizem ter sido espalhado pelo próprio presidente paraguaio, Francisco Solano Lopes, em caravanas por toda a fronteira.

As almas presas a estes tesouros buscam as pessoas dignas para reivindicá-los, aparecendo ora como bolas de fogo ora em sonhos para aqueles de coração puro. No entanto, é preciso ser conhecedor da tradição para poder retirar o seu quinhão: deve-se ir sozinho, resistir ao ataque de todos os bichos e espíritos, não ter pensamentos negativos, não soltar pum e uma série de outros cuidados. Quem não for merecedor, ao invés de ouro, vai encontrar apenas carvão.

Outra das recomendações é riscar uma cruz com o próprio sangue sobre o pote de tesouro logo que for encontrado. É modo de evitar que os espíritos mudem o ouro de lugar.

ENTERROS E BOTIJAS

Tipo: Desafio
Elemento: Labuta

"Você sonhou com ouro enterrado. Ele será seu se você tiver coração puro e não desrespeitar os espíritos!"

Condição de Vitória:
Envie duas cartas do tipo Terra, de sua Mão ou do campo, para o Beleléu.

Efeito:
Esta carta não tem efeitos adicionais

Artista: Berjê

Carta de Enterros e Botijas. Com ilustração mostrando uma bola de fogo flutante e com rosto apavorante. Abaixo dela, um gramado com uma pá. Próximo ao gramado, abaixo da terra, um baú, um crânio humano, alguns ossos, pedras, um livro e jóias.

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Fontes

– COSTA, Andriolli. O Ouro dos espíritos – Tradição e esperança no imaginário paraguaio. Revista GeoPantanal. v. 15, n. 28, 2020.
– CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo: Global, 2012.
– FERNANDES, Frederico Augusto Garcia. Entre histórias e tererés: o ouvir da literatura pantaneira. São Paulo: EdUNESP, 2002.
– PINHEIRO, Alexandra Santos. Em busca do nacional: Lendas e causos do interior brasileiro. In: Ideação – Revista do Centro de Educação e Letras, Unioeste, 2009.
– LEITE, Mário Cézar Silva. Águas encantadas de Chacororé: natureza, cultura, paisagens e mitos do Pantanal. Cuiabá: Catedral Unicen Publicações, 2003.