Cosme e Damião

Ilustração: Roe Mesquita

COSME E DAMIÃO

Relatório

São Cosme mandou fazer duas camisinha azul
No dia da festa Dele, São Cosme quer caruru
Oi, vadeia, Cosme (vadeia)
Eu tô vadeando (na areia)
– Ponto de Cosme e Damião

Segundo a tradição, Cosme e Damião viveram e morreram na Ásia Menor, por volta do século IV. Médicos e cristãos, atendiam a população sem cobrar nada, convertendo muitos pacientes. Teriam sido, por isso, condenados à morte por bruxaria. A generosidade que demonstravam inspira no povo a tradição dos doces dados de presente às crianças, entregues em promessa aos santos.

Por parte do catolicismo, o dia oficial de São Cosme e São Damião é 26 de setembro. Costumava ser dia 27, em homenagem a inauguração da basílica dos gêmeos em Roma. No entanto, como o 27 também é dia de São Vicente de Paula, em 1969 o papado fez uma atualização no calendário litúrgico, consagrando o dia 26.

Essa pode ser uma determinação institucional, o que sempre passa ao largo das práticas do povo – que continuou celebrando no dia 27 também. Na prática temos dois dias, o que parece adequado para os gêmeos.

Falamos do lastro católico, mas é preciso também falar da presença dos santos no imaginário afro-brasileiro. E ele está ligado diretamente ao período colonial, quando o sincretismo tornou-se estratégia para que o povo negro pudesse manter sua cultura e religião.

Foi assim que os santos foram sincretizados com os Ibejis, orixás-criança e que também são gêmeos, responsáveis pela proteção dos pequenos. Muitas vezes os Ibejis são tomados por Erês, mas cabe a distinção: Erês são entidades crianças, mas apenas os Ibejis são orixás.

Em algumas regiões, como na Bahia, é comum que no dia 27 ocorra uma outra prática cultural ligada aos Ibejis/Cosme e Damião: a tradição do caruru dos sete meninos. Caruru é um prato feito com quiabo, camarão seco e azeite de dendê, que na data é servido com acompanhamentos como frango cozido, feijão fradinho e banana da terra.

Quem faz a promessa, deve oferecer o preparado deve então oferecê-lo a sete crianças, que comem com as mãos e depois as limpam na saia de quem ofertou o caruru.

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