Ilustração: Tiago Holsi
CHINELO VIRADO
Relatório
Uma das superstições mais conhecidas do Brasil. A crença diz que não se deve deixar os chinelos emborcados sob o risco de atrair azar. Em muitas versões este azar tem um foco específico: a morte da mãe do dono dos calçados.
Um chinelo é um tipo de sandália que deixa o pé mais livre. Consiste em um solado preso por uma tira reta ou em forma de Y. Grande marco para a popularização deste calçado no Brasil foi o ano de 1962, quando a São Paulo Alpargatas Company lançou a primeira edição das Havaianas, com as típicas cores azul e branca.
De onde vem esta tradição? O dicionário de Cascudo foi escrito em 1954, e lá não se fala em chinelos. No Dicionário do Folclore Brasileiro, de Luís da Câmara Cascudo, encontramos a informação no verbete “Sapatos”. O sapato emborcado, diz ele, está chamando a morte para quem o uso. Afinal, “a imagem sugere o corpo em posição inversa à normal, com a cabeça para baixo e os pés para cima”.
É inclusive assim, de bruços, que se enterravam os sacrílegos e pessoas cuja alma deveria ser punida. Com a barriga virada para o solo, sua trajetória é cada vez mais fundo na terra.
Com a popularização dos chinelos entre as camadas populares do Brasil, a superstição do sapato emborcado passou a ser endereçada a eles. E a figura da mãe como alvo do azar? Talvez por uma relação que integra na crença a imagem da dona de casa organizada – que não aceitaria a bagunça de um calçado emborcado debaixo do seu próprio teto.