Canto do Galo

CANTO DO GALO

Relatório

O galo dantes falava. Quando os Apóstolos estavam à mesa, afirmavam eles que Cristo não era Deus, e Cristo respondeu, que era tanto Deus como o galo falar; foi então que o galo disse: Coroado. E é ainda hoje a sua linguagem.
– Leite de Vasconcellos

O Canto do Galo traz consigo uma série de simbolismos. É o símbolo do nascer de um novo dia, da esperança que se renova. É também a ressurreição, a derrota das trevas representada pela chegada do sol que vence a noite. As visagens correm livremente pelas sombras, mas interrompem sua carreira quando chega o astro-rei. Mitos como o Lobisomem, a Mula sem Cabeça e a Curacanga voltam à forma humana assim que ouvem o terceiro cantar do galo.

No conto “O Negrinho do Pastoreio”, de Simões Lopes Neto, temos uma cena poderosa. Depois de ter perdido a tropilha de cavalos, o menino pede ajuda a Nossa Senhora Aparecida. Toma, então, uma vela do oratório de sua madrinha sagrada e segue pela noite escura. A cada pingo de cera no chão, nasce uma nova luz, que a tudo clareia. Assim, até os galos começaram a cantar, achando que o sol havia raiado mais cedo.

Contos envolvendo animais com a família de Jesus são muito frequentes no catolicismo popular. Cabe ao galo, por exemplo, o anúncio do nascimento do menino, no dia 25 de dezembro. É quando o animal, a plenos pulmões, canta, em forma de onomatopeia: “Cristo nasceu! Cristo nasceu!”. É daí que vem a expressão “Missa do Galo”.

A história, no entanto, tem ainda a participação de outros animais. O boi, então, pergunta: “Ooonde?”. A ovelha logo responde: “Em Béé-lém”. O porco, por outro lado, duvida: “Não creio, não creio, não creio”. Em outras versões, citadas por Câmara Cascudo, o Peru quem retruca: “Mente, mente, mente!”. É por isso que o porco é um animal malvisto, e o peru é comido no Natal.

Dizem que, quando uma galinha começa a cantar junto do galo, é porque está atraindo a morte para a casa dos seus donos. Por outro lado, dizem que galo cantando fora de hora é sinal de que uma moça está fugindo.

Durante muito tempo, foi comum uma prática de criar esses animais para a briga, as chamadas “rinhas de galo”. A prática vem sendo coibida desde o primeiro governo Vargas, na década de 1930. Hoje, a rinha é proibida por lei e considerada crime ambiental, com pena de dois a cinco anos de prisão, além de multa.

Costume antigo era castrar um galo para que ele pudesse engordar bastante, tornando-se prato de ocasiões especiais. O “capão”, como é chamado, era oferecido especialmente às mulheres que haviam acabado de ter filho, para poder fazer com que elas recuperassem a energia. Por isso, era comum a expressão “Quando vamos comer o capão?”, para perguntar quando o bebê nasceria.

CANTO DO GALO

Tipo: Saberes

Habilidade:
O sol raiou mais cedo. Retorne todas as cartas Visagem, de um oponente, para a sua Mão.

Efeito: Retorno

Citação: "O galo é sempre o primeiro a anunciar as auroras. Repara bem: tem esporas, e é por isso cavaleiro." - Francisca Júlia, 1912

Artista: André Vazzios

Carta do Canto do Galo. Com ilustração bem colorida de um galo cantando. Em um cenário aberto com algumas flores ao redor e campos verde-azulados, com o horizonte azulado e um sol estilizado nascendo.

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Fontes

– CAMPOS, Eduardo. Os Incomedidos Glutões – a hipérbole da culinária e outras considerações. In: Campos, Eduardo. A Gramática do Paladar − antepasto de velhas receitas. Fortaleza: Editora UFC, 1996. p. 43-53.
– CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo: Global, 2002.
– CASCUDO, Luís da Câmara. Licantropia Sertaneja. Revista do Brasil, São Paulo, Ano VIII, n. 94, p. 129-133, out. 1923.
– GUIMARÃES, Ana Paula. Galo – dantes e daqui em diante. Revista Dobra, v. 6. p. 1-17, 2020.
– LOPES NETO, João Simões. Contos gauchescos e lendas do sul. 3. ed. Porto Alegre: Globo, 1965.