Caipora

CAIPORA

Seu nome vem do Tupi, “Caá-Porá”, e significa habitante do mato. A visagem é uma das que conta com maior número de variantes: pode ser pequena ou gigante, pode ser masculina ou feminina, pode ser guerreira combativa ou um Trickster enganado.

Ao que tudo indica, o nome Caipora foi uma derivação posterior. Diferentemente do Curupira, já registrado em 1560, não havia menção a um Kaapora no mesmo período. Encontramos, no entanto, referência a um ente chamado “Kaa-gerre” ou Kaagerre, que o missionário francês Jean de Léry descreve assim:

“Essa pobre gente, durante a vida, é afligida por esse espírito maligno, a que também chamam Kaegerre, e quando nos falavam, como muitas vezes presenciei, sentindo-se atormentados e clamando subitamente como enraivados, diziam: ‘Ah! defendei-nos de Anhanga, que nos espanca’. E diziam, que realmente o viam, ora em forma de quadrúpede, ora de ave, ora de qualquer outra estranha figura”.

Por sua vez, o franciscano André Thevet registra: “Eles têm tanta necessidade de fogo como nós, tanto para cozinhar as suas carnes, como para resistir a este espírito que os assedia durante a noite e prejudica seus negócios. Alguns lhe dão o nome de Agnan e outros o chamam de Raa-Onan ou Kaa-Gerre”.

Percebemos, pelo depoimento, essa mescla do caipora primordial com a figura do Anhangá, e como ambos eram reduzidos a “demônio” pelos religiosos. O nome “Caipora” é ainda hoje usado para indicar azar, pessoa que sofre de panema, uma espécie de “mana ruim” que permeia os que são alvo do castigo dos protetores da mata.

Gonçalves Dias supõe que o “Gerre” seja derivação de “guara”, cujo sufixo vai indicar, também, “morador”, “do lugar”. No Vocabulário Tupi-Português, de Lemos Barbosa, encontramos palavras como “momoyguara”, que significaria “morador de fora/forasteiro”, o que comprovaria a aproximação entre Morador e Habitante do Mato, o Caipora.

No registro de Cornélio Pires, já com mais influência caipira, é caboclo legítimo. Chatarrão, cheio de corpo e peludo como bicho. “O caipora é loco por fumo, e vacê sabeno gradá ele vacê fais razora nas caçadas; O gosto dele é anda amuntado num porcão do mato, tocano as vara de queixada e de cateto pros carrero do mato”.

É com essa feição que a visagem é hoje mais conhecida, como um protetor das matas junto a seu porco. No entanto, nas regiões em que seu lado Trickster prevalece, encontramos narrativas que o aproximam muito a um saci: torna-se brincalhão, enganador, assumindo formas diferentes para castigar os caçadores – de onça até árvore, ou mesmo uma nuvem de chuva.

CAIPORA
Pontos de Força: 3
Pontos de Vida: 3

Tipo: Visagem
Elemento: Terra

Habilidade:
Envie uma carta da Mão para o Beleléu. Até o fim do turno, esta carta valerá por duas, ao enfrentar qualquer Desafio. A carta vai para o Beleléu depois disso.

Efeito: Parceria

Citação: "Olha o tamanho do rastro desse cateto! É companheiro de Caipora, certo que é!"

Artista: Otoniel Oliveira

Carta com ilustração de Caipora, um ser humanóide de pele escuro, cabelos vermelhos, olhos faiscantes, sem camisa, com uma calça azul dobrada nas canelas. Ele usa um cranio de animal como ombreira. Ele está descalço derrapando no chão, com uma das mãos quase no solo. Dois javalis escuros com olhos flamejantes acompanham ele. Ao fundo uma floresta.

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Fontes

– BARBOSA, A. Lemos. Pequeno Vocabulário Tupi-Português. Rio de Janeiro: Livraria São José, 38.
– CASCUDO, Luis da Câmara. Geografia dos Mitos Brasileiros. São Paulo: Global, 2006.
– PIRES, Cornélio. Conversas ao pé do fogo. São Paulo: Ed. Monteiro Lobato, 1921.