Arranca-Língua

O ARRANCA-LÍNGUAS

Relatório

Em 1933, estreia um filme paradigmático para a história do cinema: “King Kong”. A história falava de um símio de proporções gigantescas, que fascinava e encantava as audiências. Poucos anos depois, a imprensa brasileira passa a mencionar a aparição do nosso próprio rei dos macacos. Um “King Kong” estaria circulando por toda a zona entre o Rio Vermelho até o Rio Tocantins, no sertão de Goiás.

Em 18 de março de 1937, o periódico “A Noite”, do Rio de Janeiro, escreve: “Estranhas notícias circulam, desde muito tempo, sobre o encontro de gado morto, faltando-lhe a língua”. O motivo nunca foi descoberto, mas o jornal apontava para uma desconfiança da população. Um monstro-macaco.

Amigos de um dos entrevistados (um pintor) contaram ter encontrado uma pegada gigantesca – três vezes maior que a dos homens – na lama semisseca ao lado de uma árvore caída. Na volta, urros e roncos semelhantes aos de macacos.

Outro entrevistado é apresentado como “Jorge de Tal”, um senhor tido como de confiança, que encontrou na fazenda do “Sr. Enéas Peludo” uma vaca morta e sem a língua. Da soma dos dois acontecimentos, tinha-se a versão do culpado.

Também em março, o Correio Official de Goiás havia dado a história de que uma ossada humana colossal fora encontrada nas margens do rio Araguaia. Seria algum monstro da mesma espécie?

O gado morto, supostamente, apresentaria apenas escoriações nos maxilares e dilaceração no interior da boca, revelando sinais de que a língua era arrancada violentamente. No entanto, não há sinais de luta no solo. “Só mesmo um outro animal de força gigantesca pode subjugar um touro em plena floresta ou campo”, conclui.

Os cálculos da matéria, replicada em vários veículos e assinada apenas por “um correspondente”, estimam que, pela pegada e pela força necessária, seria preciso um macaco de quase quatro metros de altura. Como não foi visto ainda, deveria atacar à noite e nas regiões ermas.

Em 9 de abril do mesmo ano, novas notícias. Foram ouvidos vários fazendeiros locais, incluindo um coronel, que afirmou: “Há poucos dias, chegou um de meus vaqueiros, dando parte da morte de uma vaca leiteira. Tinha sido ordenhada naquela manhã. Foi solta no campo. À tardinha, tendo ido o vaqueiro campear, viu a vaca estendida, morta, à beira do trilheiro. A cabeça estava deslocada, a língua arrancada, e havia uma poça de sangue ainda fresca no local”. Outros depoimentos se seguem, mostrando um modus operandi de estrangulamento dos animais.

Um discurso do escritor e jurista Paulo Figueiredo lança luz sobre este episódio. Corriam os anos 1930 e, em todo o Brasil, a imprensa falava frequentemente de Goiás e de sua nova capital. As manchetes eram das mais incríveis: o aparecimento de um King Kong às margens do rio Araguaia; um homem da capa preta que assustava os transeuntes em Goiânia; descoberta de uma mulher múmia…

Como aponta Figueiredo, todos estes supostos acontecimentos eram criação ou distorção do jornalista Joaquim Câmara Filho, um potiguar radicado em Goiás, onde chefiava o Departamento de Propaganda do Estado. Nele, “se dedicava, de corpo e alma, à propaganda de Goiás e de Goiânia, fazendo deste Estado e daquela cidade dois objetos de permanente atração dos brasileiros”.

Em 1939, no Diário de Notícias do Rio de Janeiro, encontramos uma menção ao monstro atribuída a Uberaba, MG. A nota fala que Silvio Vianna, veterinário do Estado, estava encarregado de estudar a causa da morte de diversas vacas encontradas sem língua na região. Diz que já circulava uma lenda de que um monstro matava o gado e lhe devorava a língua. Para o veterinário, a explicação estava na seca: “os bovinos comem capim duro e ferem a língua”. Com a infecção, a língua acabava saindo. Uma mostra de como rapidamente a narrativa se espalhou pela região.

Um documentário sobre a Perna Cabeluda foi produzido em 1996, por Gil Vicente, Marcelo Gomes, Beto Normal e João Jr. O filme, assim como muitos dos cordéis, não se furta de trocadilhos sexuais. No entanto, o grande destaque vai para um elemento trabalhado em poucos minutos de filme: a relação com a Ditadura Militar.

O ARRANCA-LÍNGUAS

Tipo: Desafio
Elemento: Peleja

"Febre aftosa? Que nada. É coisa dele!"

Condição de Vitória:
A) Some 14 ou mais PFs do seu lado do campo e derrote a carta em combate.
B) Arrisque um ataque Tudo ou Nada quando somar metade do valor.

Efeito:
Esta carta não tem efeitos adicionais

Artista: Rafael Limaverde

Carta de Arranca-Línguas. Com ilustração de uma fera semelhante a um gorila gigante. Ele está sentado no chão, com um pé prendendo uma vaca no chão. Com uma mão ele arranca uma cerca, com a outra mão ele segura a língua da vaca enquanto come a língua.

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Fontes

Academia deu posse a Paulo de Figueiredo. A Voz de Luziânia. Goiás. 12/10/1983.
King-Kong! Curiosas revelações. A Noite. Rio de Janeiro. 18/03/1937.
O monstro estrangulador que devóra linguas! A Noite. Rio de Janeiro. 09/04/1937.