Ilustração: Al Stefano
ALAMOA
Relatório
É fulva donzela, – é a fada da ilha;
Afeta sorrisos, e finge ser boa;
Porém não te enganes, – bondade aparente,
Não saias, querido,
Que o vulto – perdido
É o gênio do mau, – é a cruel Alamoa.
– Alamoa, Risos e Lágrimas (1882)
Gustavo Adolfo Cardoso Pinto
Alamoa é uma corruptela de “Alemoa”, e é o nome utilizado para se referir a uma visagem típica da ilha de Fernando de Noronha, em especial no Morro do Pico. As narrativas falam de uma mulher loira que aparece nua, dançando na praia iluminada pelos relâmpagos. Às vezes, toma a forma de uma bola de luz flamejando, tanto outra forma ao tão conhecido fogo-fátuo.
Em verdade, quando Gustavo Adolfo Pinto poetiza as narrativas que encontra na ilha, ainda no século XIX, os dois elementos eram tidos como visagens distintas que habitavam o mesmo espaço: as Luzes fantasma e a Alamoa, sereia ou fada sedutora. Com o tempo, acabam se mesclando.
No mesmo texto em que menciona João Galafuz em 1904, Pereira da Costa fala sobre as luzes misteriosas que aparecem no Pico em Fernando de Noronha. Depois de surgir e vaguear, a luz descia e se alteava, atirando-se sobre a superfície azul do oceano, passeando sobre as ondas sem se apagar.
Já em 1916, Mário Melo, ao escrever sobre o arquipélago, fala que a luz peregrina era a alma errante de uma “linda francesa”, que aparecia para os viajantes oferecendo um tesouro misterioso. Diz ele que ela só estará livre quando o ouro for reivindicado por alguém. Uma história típica do ciclo do ouro enterrado.
Durante de 1737 a 1938, Noronha serviu de presídio em alto-mar: a chamada Colônia Correcional. Não por acaso, a visagem era especialmente vista pelos presidiários que, ilhados em Noronha, acabam lançando-se ao mar procurando alcançar a beldade fantasma. Eram, todavia, devorados por tubarões ou engolidos pelo mar.
No registro de Olavo Dantas, em 1938, já encontramos o nome “Alamoa”, com uma peculiaridade. Quando o homem seduzido se aproxima demais, ela assume uma face cadavérica – sua aparência verdadeira, e o apaixonado despenca para a morte nas fendas da noite. Versões mais recentes, contadas por guias turísticos, são mais explícitas. A Alamoa faria sexo com os homens até que matá-los de exaustão.
A Alamoa tem sido inspiração para vários artistas, como Altimar Pimentel que produziu uma peça inspirado pela visagem. Nela, Alamoa inquieta as viúvas de Noronha que vivem isoladas nessa ilha sofrendo a perda de seus maridos e filhos que foram por ela atraídos. Verônica, mulher do último homem do lugar, passa a ser perseguida por ter características físicas que lembram a assombração.