ÁGUAS DE ITORORÓ
Relatório
Fui no Itororó
Beber água e não achei
Achei bela morena
Que no Itororó deixei.
Aproveita minha gente
Que uma noite não é nada
Quem não dormir agora
Dormirá de madrugada
Não existe registro definitivo quando se fala em cantigas. Afinal, elas pertencem ao povo, e ele sempre vai fazendo suas alterações nos versos. Conforme o ritmo, o lugar e mesmo aquele que entoa a música, é comum que um tema seja encadeado com o seguinte, dando forma a uma estrutura muito particular. Ou seja, uma cantiga se emenda na outra, de forma que é difícil distinguir o que pertence a cada música. É mais fácil separar em temas. Mário de Andrade reflete:
“As rodas infantis brasileiras apresentam numerosos processos de variação, formação e transformação, de elementos musicais e literários das canções portuguesas. Por vezes a mixórdia é bem intrincada. Trocam-se textos e melodias; ajuntam-se vários textos e várias melodias; os textos se fracionam e as melodias também”.
No caso de “Eu fui no Tororó”, é Heitor Villa-Lobos quem constrói o arranjo em que o tema-título é seguido pelo tema “Entrarás na roda ou ficarás sozinha”. O maestro era um grande entusiasta das culturas populares. Mais tarde, já integrado ao projeto educador do governo Getúlio Vargas, vai compreender as crianças como brasileiros em formação e valorizar a cultura tradicional como forma de construir os valores da pátria.
Em “Cirandas” (1926), Villa-Lobos visita o repertório infantil, reescrevendo e ordenando a melodia de algumas canções, ajudando a fixá-las no tempo. Entre as 16 cantigas, canções de roda e acalantos que compõem o projeto, está ali uma versão de “Fui no Tororó”.
Supõe-se que a palavra, na verdade, venha do Tupi, “Y-Tororó”, que significa “jorro d’água”. E onde ficaria, portanto, este local? Bom, ao nos lembrarmos de seu significado na língua indígena, podemos entender que qualquer lugar onde haja água jorrando seja, potencialmente, o lugar da cantiga.
Ainda assim, existem alguns espaços físicos no Brasil que são especialmente conhecidos. Um deles é o Dique do Tororó, um manancial na cidade de Salvador. A lagoa é especialmente conhecida por ostentar oito estátuas de orixás produzidas pelo escultor Tatti Moreno: Oxalá, Iemanjá, Oxum, Ogum, Oxóssi, Xangô, Iansã e Nanã. O segundo lugar é a Fonte do Itororó, na cidade de Santos, SP.
Esta construção em Santos, SP, pertenceu a um comerciante português chamado Brás Cubas, que a utilizava para fornecer água ao seu curtume. Depois, serviu inúmeros outros comércios, entre o século XIX e XX, sempre ajudando a matar a sede dos transeuntes. Outra fonte de mesmo nome fica em Guaratuba, PR, no largo de Nossa Senhora de Lourdes, e é tida como milagrosa. Como ocorre com inúmeras fontes pelo país, dizem que quem bebe de suas águas sempre volta.
ÁGUAS DE ITORORÓ
Tipo: Desafio
Elemento: Labuta
"Você foi beber água e não achou. Procure com a bela morena uma fonte para matar sua sede."
Condição de Vitória:
Envie duas cartas do tipo Água, de sua Mão ou do campo, para o Beleléu.
Efeito:
Esta carta não tem efeitos adicionais
Artista: Daniel Brás
Fontes
ANDRADE, Mário. Música, doce música. São Paulo: Martins Fontes, 1976.