A Sétima Maria

A SÉTIMA MARIA

Relatório

A narrativa que atravessa a visagem diz sobre um monstro que mora no rio Parnaíba, no Piauí. O corpo magro e comprido lembra ainda vagamente as formas de um humano comum, mas com uma peculiaridade: ostenta uma cabeça descomunal, com cabelos que lhe caem retos pela testa. É ela que lhe garantiu o apelido pelo qual se tornou conhecido no Brasil inteiro: “Cabeça de Cuia”.

Dizem que o monstro já foi homem. E que tinha inclusive nome: Crispim. A história fala de um ribeirinho que vivia numa choupana miserável, na beirada do Parnaíba. Um dia, após uma longa jornada de trabalho, retornou para casa ansioso pelo jantar. A pesca, entretanto, estava cada vez mais fraca; não havia mistura para servir a mesa. Para enganar o estômago, a mãe do rapaz improvisou com o que tinha: uma sopa feita com ossos de boi para engrossar o caldo.

A fome, sabemos, desumaniza qualquer um. Só que Crispim foi além. Revoltado com a falta de comida, tirou do alimento um osso inteiro de boi e usou-o para espancar a própria mãe. Bater em mãe, como se sabe, é pecado. E, na cultura popular, pecado pago com maldição. Antes de morrer pela surra injusta, Crispim foi transformado em um homem-fera, de hábitos aquáticos, com uma cabeça enorme e redonda feito um porongo ou cabaça.

Existe, no entanto, uma forma de o monstro se livrar de sua maldição. No “Dicionário do Folclore Brasileiro”, encontramos a versão de que ele deveria comer, de sete em sete anos, uma moça chamada Maria – e isso durante 49 anos. Outros vão ser mais específicos e dizer que ele precisa matar sete Marias virgens. Enquanto isso, sua mãe permanecerá a viver nas águas do rio (será em corpo ou só em espírito?).

Chama atenção pensar que, para recuperar a humanidade, é preciso cometer atos desumanos. Qual seria a lógica? Nas tradições populares, sabemos que o sete é número místico, caracterizando a perfeição. O “pleroma”, na Gnose, que significa “o que está completo”. Para o mitólogo Junito Brandão, sete configura “o remate do mundo e a plenitude dos tempos”. E o que acontece quando a plenitude é multiplicada por si mesma?

Sete vezes sete poderia ser uma forma de simbolizar o infinito, a permanência. Na Bíblia, Jesus fala em perdoar 70 vezes sete vezes. Em uma quadrinha nordestina, mencionada por Brandão, temos a história de Sara, também de relato bíblico.

“Sete vezes fui casada,
Sete homens conheci;
E juro por fé de Cristo,
Inda estou como nasci.”

Amaldiçoado, o Cabeça de Cuia deverá passar a eternidade assassinando mulheres; revivendo o ato que o tornou monstro, na tentativa vã de voltar a ser conhecido como gente.

A SÉTIMA MARIA

Tipo: Desafio
Elemento: Peleja

Condição de Vitória:
A) Some mais de 12 PFs do seu lado do campo e derrote a carta em combate.
B) Arrisque um ataque Tudo ou Nada quando somar metade do valor.

Especial:
Vença o Desafio em até dois turnos ou ele voltará para o fundo do baralho.

Artista: Berjê

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Fontes

– BRANDÃO, Junito. Mitologia Grega II. Petrópolis: Vozes, 1987.
– CASCUDO, Luis. Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo: Global, 2002.