Benzedor

Ilustração: Jhon Bermond

BENZEDOR

Relatório

Santa Sofia tinha três filhas,
Uma fiava, uma cozia;
A outra curava mal de azia.

Embora existam muito mais mulheres benzedoras do que homens, a figura masculina também não é estranha ao mundo das práticas tradicionais de cura. Em verdade, em algumas comunidades, os mestres são procurados justamente a partir da distinção de gênero. O homem, por exemplo, por vezes é mais procurado para rezar quem foi “ofendido de bicho” (mordido, envenenado); para expulsar cobras da fazenda, estancar sangue em ferida ou curar bicheira de animal. A mulher, para cura de crianças e adultos. Nada impede, todavia, que um mesmo benzedor exerça todas as ações.

Tornar-se benzedor é um processo que começa com o reconhecimento de um dom divino que depois é aceito como missão. Aceitar é importante pois, ao mesmo tempo em que, diante desta tarefa, os benzedores recebem este atributo social – tornando-se referência na comunidade – também devem ceder alguma coisa. Seu tempo, sua disposição física e espiritual, ficam à disposição da comunidade.

O benzedor, todavia, não faz propaganda de seu trabalho. É pelo boca a boca que se torna conhecido e procurado na comunidade; um agente cultural de referência e aconselhamento. Também não aceita pagamento pelo ofício; apenas presentes.

Durante o benzimento, articula-se palavras, frases e rezas junto com o uso de ervas e outras ferramentas. Entre as ervas mais comuns temos arruda, alecrim, guiné e mamona, utilizados para aspergir água. Alguns fazem cruzes com tição de fogo, trabalham com carvão e copo d’água, passam ferro quente em pano, cozem ritualmente com uma agulha, e assim por diante.

Também é comum que o benzimento tenha um regramento específico. É preciso que a benzeção seja feita três vezes, sempre no mesmo dia, em semanas seguidas, por exemplo. A falha em uma dessas presenças pode incorrer no fracasso do processo de cura.

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