João Galafuz

Ilustração: Caio Yo

JOÃO GALAFUZ

Relatório

“Eu já lhe disse uma vez
minha jangada vai voar
eu já lhe vi disse uma vez
num banho a consciência
se afoga de uma vez
de cor e cheiro as águas inundarão
eu sei mais estarei longe demais.
Eu vou morar depois do mar”.
– João Galafuz, Rádio S.Amb.A. (2000)
Nação Zumbi

Visagem típica do Pernambuco, especialmente na ilha de Itamaracá. Dizem, no entanto, que também aparece em Alagoas e Sergipe. É conhecido ainda por João Galafoice ou mesmo pela corruptela “João Cagafoice”. Trata-se de outro mito ligado ao fogo-fátuo, como o boitatá e suas variações.

João Galafuz, no entanto, tem algumas peculiaridades. Dizem que a visagem é a alma de um pescador que perdeu a vida nas águas. Assim, aparece como uma bola de luz iridescente. Vê-lo, entretanto, é prenúncio de problemas. João aparece com um facho de luz multicoloridas como presságio de tempestades violentas, afogamentos e naufrágios.

Em artigo publicado em 1904 no Diário de Pernambuco, Pereira da Costa registra uma possível origem para o mito. Dizem que era um caboclo que morreu sem batismo, por isso tornou-se alma penada. Isso o colocaria no “ciclo das almas pagãs”, uma constante na tradição popular dos povos de influência católica.

Versões posteriores vão acrescentar elementos à narrativa. Dizem que João estava pescando com seu filho antes de morrer. O garoto escapou, mas o fantasma permanece no mar, abordando os navegantes perguntando sobre sua prole. Às vezes, exaltado, o encantado grita: “Traga meu filho de volta!”.

João Galafoice, em algumas regiões, não tem nada a ver com luz. Como registra Alfredo Brandão, em Alagoas, ele é descrito como um homem negro raptor de crianças, como um Velho do Saco. As versões se unem, fazendo com que na forma humana do Galafuz, por vezes, ele apareça como um negro de chapéu de palha e um surrão nas costas (um saco) com o qual sequestraria pessoas.

Outros mencionam que carrega não um saco, mas um grande cesto – como que para guardar a pesca. Luzes fantasma tendem a fazer com que as pessoas se percam, o que justificaria essa aproximação no imaginário entre mitos raptores e do fogo fátuo.

O psicanalista Jacques Laberge empreendeu um trabalho de campo na Ilha de Itamaracá para coletar histórias do Galafoice nos anos 1970. Lá, encontra histórias de que João pode se transformar em qualquer coisa. Desde assumir uma forma de um fantasma sem cabeça puxando redes de pesca até a de uma embarcação. Outros pescadores usam outras expressões para descrevê-lo, como “pequena tocha de fogo azul”.

Para afastá-lo, basta acender um fósforo. João Galafoice desaparecerá imediatamente.

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