Romãozinho

ROMÃOZINHO

Relatório

Romãozinho é um mito conhecido em parte do Centro-Oeste e Nordeste brasileiro. Conta a história de um menino que, de tanto cometer maldades, foi amaldiçoado pela mãe. A partir da praga da própria genitora, torna-se uma visagem errante, condenada a perambular pelo país levando sempre o caos e inspirando violência por onde passa. Romãozinho é conhecido por surrar cachorros, apedrejar casas e gerar brigas entre as famílias.

Poucas são as versões que falam da aparência do menino. José Teixeira, ao analisar o folclore goiano, fala que era um menino negro. Alguns autores vão se apressar em comparar Romãozinho ao saci, mas isso seria uma injustiça. Saci nunca fez maldade verdadeira; no máximo, ele exagera um pouco nas brincadeiras. Só que Romãozinho faz o que faz por gosto…

Sua história mais famosa é justamente a que dá origem à sua maldição. Dizem que Romãozinho era o filho de uma família de camponeses muito humildes e que, todo dia, o menino tinha de levar o almoço para o pai enquanto ele estava capinando na roça dos outros. Um dia, o garoto resolveu abrir a marmita, comer metade da comida do pai e entregar como se nada tivesse acontecido.

O pai, todo dia, chegava em casa reclamando da quantidade de alimento. A esposa, indignada, fazia mais no dia seguinte. Inútil, Romãozinho comia a mais, do mesmo modo, que era para deixar o pai cada vez mais irritado. Quando a situação chegou ao limite, a mãe tomou medidas drásticas: assou um frango inteiro e entregou ao garoto para levar ao pai. O que Romãozinho fez?

Exatamente. Sentou-se debaixo de uma árvore e, com a maior calma do mundo, comeu o frango inteirinho. Na marmita, devolveu só os ossos. Quando o pai encontrou a quentinha vazia, o moleque malvado arrematou: disse que aquilo era piada da mãe. Arquitetada por ela e pelo vizinho, seu amante, que morreram de rir enquanto preparavam o prato vazio para o lavrador.

Só que não havia amante algum. Era tudo criação do menino. E, mesmo que houvesse, nada justificaria o que aconteceu em seguida. O pai, enlouquecido de raiva e ciúme, volta para casa e mata a mulher, sem dar chance de ela argumentar. Antes de morrer, no entanto, ela olha para o filho − que gargalha diante do seu destino trágico − e entende tudo. É ali que a praga é lançada. É ali que nasce o mito de Romãozinho.

Essa terrível história, cheia de perversidade, possui algumas variações. Em outra versão, colhida por José Teixeira, Romãozinho era um menino mal-educado que só sabia cantar coco e participar de desafios nos batuques e pagodes. Um dia, quando a mãe o repreendeu, o garoto deu-lhe “uma surra de sopapos e pontapés”. A mulher, então, amaldiçoou o malvado, que se tornou o duende do mito.

E o que acontece depois da maldição? Ninguém sabe ao certo. Em Wilson Lins, Romãozinho estoura depois da praga da mãe, deixando atrás de si “um horrível cheiro de enxofre”. O que se sabe é que o menino virou “bicho” há mais de 200 anos, mas sempre mantém a aparência de criança. Cascudo relembra versões que dizem que Romãozinho lambeu o fogo do inferno após ser amaldiçoado, por isso aparece sempre “apagando e acendendo uma chama azul misteriosa”. É o lastro de mais um mito ligado ao fenômeno do fogo-fátuo.

As maldades realizadas pelo Romãozinho também variam. Das mais inocentes, como jogar pedras no telhado, levantar a saia das moças e beber toda a cachaça das festas, até as mais graves. Existem relatos de pessoas que dizem que o Romãozinho tira chicotes, cabos de vassoura, cordas e os usa para bater nas pessoas da casa. Seria mesmo Romãozinho ou uma desculpa para mascarar a violência doméstica? É preciso ficar atento.

ROMÃOZINHO
Pontos de Força: 2
Pontos de Vida: 2

Tipo: Visagem
Elemento: Fogo

Habilidade:
Envie esta carta do campo para o Beleléu. Escolha uma carta do campo do oponente, para enviar também.

Efeito: Quebranto

Citação: "Muita gente compara esse menino com o Saci. Só que Saci nunca foi ruim..."

Artista: Karl Felippe

Carta de Romãozinho, mostrando uma ilustração de um garoto com rosto assustador e olhos flamejantes, ele está agachado no chão segurando um fósforo aceso e uma caixa de fósforos, ao redor dele uma lamparina e algumas latas e recipientes de produtos inflamaveis. No fundo, uma casa pegando fogo.

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Fontes

– CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo: Global, 2012.
– LINS,Wilson. O médio São Francisco: uma sociedade de pastores guerreiros. 3 ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1983.
– TEIXEIRA, José A. Folclore Goiano: Cancioneiro – Lendas – Superstições. São Paulo: Companhia Editorial Nacional, 1959.