Rendeira

RENDEIRA

Relatório

Tramas delicadas que se espalham em vestidos, toalhas, acessórios… O ofício das rendeiras de bilro tem mais de quatro séculos de lastro no Brasil. E permanece bastante vivo, especialmente nas regiões litorâneas. Nossa tradição das rendas de bilro veio de Portugal, que a recebeu, por sua vez, de trocas culturais com Flandres, Itália e pela influência das viagens ao Oriente.

Os bilros de que se fala são bastõezinhos de madeira, nos quais as linhas são enroladas. A renda é produzida sobre uma almofada preenchida por serragem, algodão ou até palha de bananeira. É por cima da almofada que ficam os moldes de onde a renda será traçada, o “pique”. Tradicionalmente, o pique era feito de papel ou papelão, mas hoje já é comum o uso de uma fotocópia sob um papel-manteiga. Mantendo a prática comunitária da cultura popular, a troca de moldes entre as artesãs ajuda a técnica a se espalhar.

Existem vários tipos de pontos (ou conjunto de pontos) feitos na renda de bilro. A nomenclatura varia de região para região, mas temos
perna cheia ou traça, tijolo, besouro, búzio, aranha, pano fechado, pano aberto e assim por diante.

Um dos registros mais antigos dessa técnica data do século XVI, em um livro publicado em Zurique. Encontramos rendas feitas com bilro nomeadas de diversas maneiras em outros países, como a renda genovesa, milanesa, veneziana, entre outras. Uma das rendas de bilros mais famosas é a chantilly, que foi uma das preferidas da rainha Maria Antonieta (1755-1793).

Um acontecimento histórico curioso se deu em 1749. Diante de uma recessão econômica galopante, causada pelo declínio da produção de ouro nas colônias, o governo português baixou um novo decreto de controle sobre costumes – as chamadas “Pragmáticas”. O texto da lei proibia a ostentação de artigos de luxo: joias, cristais, pedras preciosas… e rendas.

A proibição foi um duro golpe para as artesãs portuguesas, que se organizaram politicamente. As rendeiras fizeram uma petição, justificando as graves perdas comerciais para o país. E enviaram uma representante para discutir na corte: Joana Maria de Jesus, de Vila Conde. No mesmo ano, um alvará flexibilizou a situação.

Para fazer uma criança falar depressa, dizem que se costumava dar de beber água em que esteve de molho um chocalho ou um bilro de renda. A lógica da tradição, para Cascudo, está ligada ao fato de o bilro ter um movimento incessante, estimulando, por simpatia, a dinâmica nas cordas vocais quando a água é bebida.

RENDEIRA
Pontos de Força: 1
Pontos de Vida: 1

Tipo: Gente
Elemento: Vento

Habilidade:
Quando esta carta é invocada, você deve recuperar uma carta Saberes do Beleléu, de volta para sua Mão.

Efeito: Busca

Citação: "Aprendi a rendar com minha avó, que aprendeu com a avó dela. Agora é sua vez, filha."

Artista: Dante Luiz

Carta da Rendeira, mostrando ilustração de uma senhora de cabelos grisalhos, de perfil, usando oculos e uma blusa rosa. Ela esá tecendo em um longo pano amarelo com detalhes verdes. Um fundo verde.

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Fontes

– CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo: Global, 2002.
– FELIPPI, Vera. Decifrando rendas: processos, técnicas e histórias. Porto Alegre: Edição da Autora, 2021.
– FELIPPI, Vera; PERRY, Gabriela. Renda de Bilros: estudo de pontos tecidos nas regiões Nordeste e Sul do Brasil. ModaPalavra, v. 11, n. 21, p. 126-146, 2018.