Capoeirista

CAPOEIRISTA

Relatório

– Relatório escrito por Maurício Xavier

A capoeira é uma expressão cultural que é considerada um dos principais meios de afirmação das raízes afro-brasileiras. Desenvolvida pelos escravizados e por seus descendentes, ela sintetiza diferentes tradições culturais africanas e é um símbolo da resistência à escravidão.

Os primeiros relatos sobre a luta remontam ao século XVIII, mas suas origens ainda despertam intensas discussões entre os pesquisadores do tema. Alguns historiadores afirmam que a capoeira foi desenvolvida por escravizados nas cidades coloniais brasileiras, enquanto outros estudiosos defendem a ideia de que a prática surgiu no meio rural. Todavia, durante o século XIX, no Rio de Janeiro, o exercício da capoeira foi bastante intenso. Diversos grupo de capoeiristas, denominados “maltas”, atuavam nas diferentes regiões da cidade. Contudo, devido à participação desses grupos nas disputas políticas entre conservadores e liberais, durante o período final do império, a luta passou a ser perseguida até ser considerada crime pelo código penal de 1890.

Em consequência da repressão causada pela proibição da prática da capoeira em espaços públicos, a luta passou a ser perseguida até que, décadas mais tarde, surgiram, na Bahia, algumas iniciativas de sistematização do seu ensino. Essas metodologias tinham como objetivo tornar a capoeira um esporte e um patrimônio da cultura brasileira. No entanto, a criminalização durou oficialmente até 1940, quando foi promulgado um novo código penal que não mais previa punições para o exercício da luta.

A capoeira teve um longo caminho até superar sua condição de delito e se tornar um um patrimônio cultural brasileiro. De acordo com pesquisadores do tema, assim como o futebol, o samba e o carnaval, a capoeira possui uma trajetória de ascensão e tensão com as elites e o governo, antes de atingir sua condição de símbolo da cultura afro-brasileira.

No início do século XIX, a capoeira ganhou relevância em ambientes urbanos, onde a tradição se diversificou, através dos encontros entre negros de diferentes origens. A obra famosa aquarela de 1822, de Augustus Earle, retrata o contexto de repressão à capoeira durante aquele período. O principal elemento da pintura que representa essa perseguição é a presença de um soldado, que embosca os dois indivíduos que realizam a disputa corporal. Além disso, não existem instrumentos musicais na cena e os demais indivíduos não batem palmas, não havendo, portanto, nenhuma referência à musicalidade típica da prática da capoeira.

O estudioso argentino, do início do século XX, Adolfo Moralles de Los Rios Filho propõe uma explicação para a origem da palavra “capoeira”. Segundo o pesquisador, o vocábulo “cá”, do tupi antigo, se refere a qualquer material oriundo da mata, enquanto que “pú” significa cesto. Assim, se forma um termo indígena para denominar os cestos feitos a partir de materiais extraídos das florestas. “Capú” era então a denominação dos grandes recipientes utilizados pelos escravizados, durante o período colonial, para embarque e desembarque de mercadorias nas áreas portuárias e os indivíduos que trabalhavam nessa função eram chamados de “capoeiros”.

De acordo com a hipótese do estudioso argentino, a capoeira, como forma de luta, surgiu em meio às disputas corporais desses trabalhadores, através de simulações de brigas realizadas em suas horas de lazer. Aos poucos, essas competições deram origem a grupos hierarquizados e a busca pela liderança dessas organizações resultou na criação do “jogo da capoeira”.

O folclorista Câmara Cascudo, por meio do estudo de relatos de viajantes e cronistas, observou a presença de alguns elementos nativos africanos na prática da capoeira. O estudioso explica que existe em Angola uma dança cerimonial de iniciação que pode ser associada aos primórdios da luta brasileira. Esse costume é praticado por alguns povos das regiões de Mocupe e Mulondo, no sul do país, e é realizado durante as festividades do Mufico, um rito de puberdade das mulheres.

A dança é executada dentro de um grande círculo de pessoas que marcam a cadência dos movimentos batendo palmas. Dentro da roda, dois jovens realizam a “Dança da Zebra”, ou “N’Golo”, na qual imitam movimentos de animais, enquanto tentam atingir o oponente com os pés. O folclorista vê diversas semelhanças entre essa prática e a capoeira, mas considera também que houve contribuições de outras tradições culturais da região na formação da luta brasileira, como por exemplo a Bássula, uma arte marcial de pescadores de Luanda.

CAPOEIRISTA
Pontos de Força: 4
Pontos de Vida: 2

Tipo: Gente
Elemento: Vento

Habilidade:
Quando esta carta vai para o Beleléu pela primeira vez (como resultado de um Desafio), ela permanece em campo, até ser derrotada novamente.

Efeito: Insistência

Citação: "Ficar com os dois pés no chão é pedir para cair." - Mestre João Grande

Artista: Caique Pituba

Carta do Capoeirista com ilustração de um capoeirista, ele usa calça branca, e está apoiando apenas uma mão no chão e as pernas abertas para cima. Um fundo mostrando um céu com cores azul, vermelho, laranja e amarelo, com um sol quase se pondo.

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Fontes

– AMORIM, Thiago Rodrigues. Narrativas Visuais Sobre a Capoeira no Rio de Janeiro. Entre os Anos de 1821 a 1932. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória, 2019.
– OLIVEIRA, Josivaldo Pires de. Capoeira, Identidade e Gênero: ensaios sobre a história social da capoeira no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2009.
– SOARES, Carlos Eugênio Líbano. A Negregada Instituição: os capoeiras na corte imperial (1850-1890). Rio de Janeiro: Access, 1999.