CHAMADO MISTERIOSO
Relatório
E a morte sem critérios
deu seu golpe derradeiro,
roubou a vida de Zé
e a do cruel fazendeiro.
Ninguém foge do destino,
seja simples, seja fino,
seja o limpo ou o imundo,
esse encontro é garantido
e por mais bem escondido
ela encontra todo mundo.
– “A lição que a morte deu”, de Bráulio Bessa
Tradições populares relacionadas à morte atravessam, de uma maneira ou outra, o imaginário de todos os povos da terra. Pode ser na forma da descoberta da finitude da vida, do enfrentamento de seres tétricos, capazes de abreviar nossa existência, ou mesmo como ritos e práticas de encomenda e despedida dos falecidos. No entanto, existe uma manifestação peculiar da morte que tem especial presença nas narrativas orais brasileiras: a morte personificada; a figura sombria, por vezes esquelética, pronta para ceifar mais uma alma.
A tradição compreende, com facilidade, a justiça da Morte, com M maiúsculo. Vários textos populares carregam o mote de que a morte leva, igualmente, todos: crianças e velhos, ricos e pobres, bons e maus. Ninguém escapa do seu jugo… O que não impede o ser humano de tentar.
Câmara Cascudo, em “Contos Tradicionais do Brasil”, posiciona os contos do Ciclo da Morte como diametralmente opostos aos do ciclo do Diabo Logrado. Se, neste último, o desenlace da história é o uso da astúcia e da esperteza como arma para vencer o Maligno, a mensagem das histórias envolvendo o logro da Morte é a mesma de sempre: o falecimento do protagonista. Afinal, esse destino é inexorável.
Nas narrativas de homens espertos que tentam se valer sobre a Morte, um dos clássicos é o conto de seus laços de compadrio. O conto fala de um homem que, sem encontrar alguém que batizasse seu sétimo filho, ofereceu o menino para ser afilhado da Morte. Ela, em agradecimento pela confiança, deu ao homem a capacidade de enxergá-la, para saber quando se aproximasse. O rapaz passou, então, a enricar como médico – desenganando pacientes quando via o esqueleto se aproximar.
Quando sua hora chegou, no entanto, pediu um favor em nome de seu filho: que só pudesse morrer quando acabasse de rezar um pai-nosso. Morte concedeu esse voto de confiança, mas o homem começou a oração e pretendia nunca terminar. Morte foi paciente, passaram-se anos e mais anos, até que um dia o homem benzeu-se e orou a Deus. Morte apareceu na mesma hora e levou-o para seus domínios.
Outra manifestação clássica da Morte em nossa cultura popular é o seu chamado misterioso. Dizem que, quando você escuta alguém chamar seu nome, mas não sabe de quem é a voz – ou de onde ela vem –, o mais seguro é não responder. Pode ser a Morte chamando, e aquele que responder terá sua vida abreviada.
CHAMADO MISTERIOSO
Tipo: Desafio
Elemento: Firmeza
"Escutou seu nome e não sabe quem foi? Não responda. Pode ser a Morte!"
Condição de Vitória:
Some 15 ou mais PVs do seu lado do campo. Quando o valor for atingido, todas as suas cartas em campo vão para o Beleléu.
Artista: Daniel Brás
Fontes
– AZEVEDO, Ricardo. Contos de enganar a morte. Rio de Janeiro: Ática, 2003.
– CASCUDO, Luís da Câmara. Contos Tradicionais do Brasil. São Paulo: Global, 2015.