SACI URBANO
Relatório
O Saci-Pererê, certamente, é um dos mitos mais conhecidos em todo o Brasil. Engana-se, no entanto, aquele que pensa que seu espaço de atuação se restringe às matas. O Saci saltita entre nós e atualiza sua presença para se manter sempre presente. Quem sabe não seja ele quem dê nó nos fones de ouvido ainda dentro do bolso da calça, da mesma forma que trança a crina dos cavalos? Ou ainda suma com seu sinal de Wi-Fi como sumia com o dedal da costureira? Não é sem motivo que, sempre que um contador de histórias fala de seu nome e surge algum problema técnico, o Saci é apontado como o responsável.
Basta acessar as redes sociais para ver como o Saci é onipresente. Ele está em aplicativos de geolocalização, mostrando o check-in em restaurantes, bairros, lojas com seu nome. Está nas expressões populares, ligado à bagunça (“Virado no Saci”) ou intensidade (“Vai cair uma chuva do Saci!”). Está nos ditos populares, que vão desde o “Em terra de Saci, calça jeans dá para dois”, para representar o improviso e a gambiarra, até o que também lembra sua terra, em que “Qualquer chute é voadora”. Isso para não falar naquele que identifica sua solteirice como estando “Mais avulso que chinelo de Saci”.
Saci está também nos apelidos (muitas vezes racistas, não vamos negar) ligados à negritude, ao uso do cachimbo ou à ausência de uma perna. É esse último elemento, inclusive, que faz com que ele esteja presente em nosso imaginário toda vez que vemos alguém com a perna engessada ou saltando em um só pé. São todas demonstrações da presença cotidiana desta visagem em nossas vidas, mesmo que não a percebamos.
Saci está também nos esportes. É mascote do Internacional de Porto Alegre desde meados do século XX, quando, em resposta à alcunha de que os jogadores eram “negros mandingueiros”, o time colorado abraçou a provocação e instituiu o Saci como representante desta habilidade misteriosa. Em 2010, ventilou-se a possibilidade de que ele fosse substituído, dando lugar ao macaco Escurinho – mascote das causas sociais do Inter. Os torcedores não permitiram.
Além do Inter, o Saci é ou foi mascote de outros times de futebol, como o Social Futebol Clube, de Coronel Fabriciano, MG; e o Esporte Clube Comercial, de Campo Grande, MS. Este último já foi apelidado de O Saci da Vila, mas hoje ostenta um lobo-guará como mascote.
E, é claro, o Saci está nas paredes das nossas cidades. Volta e meia, o transeunte vai se deparar com imagens estetizadas da figura em vermelho e preto, com o traço crítico do grafite traduzindo a personalidade de cada artista. E, entre as intervenções na rua, a mais notória é a do Saci Urbano.
A imagem é criação do artista visual Thiago Vaz, que nasceu no interior da Bahia, mas logo cedo se mudou para São Paulo. Desse interstício, floresceu, em 2008, essa figura “chavosa”, com um único pé calçado num tênis vermelho – a mesma cor de sua boina. Em suas marcações, está sempre trazendo um comentário social. É retratado tomando dura da polícia, sendo expulso de prédios abandonados pela especulação imobiliária, chorando a morte de seus irmãos negros em mais uma chacina cometida pelo Estado.
O Saci Urbano de Thiago já circulou pelo mundo. Na forma de lambe-lambe, foi marcado nas ruas de Paris, Berlim e muitas outras. Sua presença fora do país ajuda a nos lembrar como a cultura popular não depende de crença, mas de reconhecimento e identidade. Um francês que veja na parede a figura perneta, com seu indefectível chapéu vermelho, não o tomará como mais do que uma imagem curiosa. Mas um brasileiro que o veja saberá de imediato quem ele é.
SACI URBANO
Pontos de Força: 4
Pontos de Vida: 2
Tipo: Gente
Elemento: Noite
Habilidade:
Quando esta carta é invocada, você deve tirar Cara ou Coroa. Se acertar, tome controle de uma carta Visagem do seu oponente, até o Desafio atual ser vencido.
Efeito: Encanto
Citação: "Cuidado ao apostar com o Saci. Nem sempre ele ganha, mas você sempre perde."
Artista: Thiago Vaz
Fontes
– COSTA, Andriolli. Poranduba 31 – Saci Urbano. 28/02/2019
– Saci é usado para “denunciar” violência e falta de áreas de lazer. Estadão. São Paulo/SP