LOBISOMEM TOURO
Relatório
Para que um lobisomem se transforme, escreve Câmara Cascudo, é preciso seguir uma ritualística. Em datas específicas – que não estão ligadas à lua cheia, mas aos dias da semana, o Lobisomem vai até um local onde os animais se espojam. Nesse espojadouro, um espaço com capim amassado e revolto onde animais rolam para se refrescarem e se coçarem, ele tira suas roupas, enterra num buraco no chão ou pendura no topo de uma árvore.
Cascudo sugere ainda que o homem deve dar sete nós na camiseta, antes de a esconder. Depois, “rola da esquerda para a direita, reunindo os pés e as mãos”. Assim começa a transformação da carne: quanto mais animais tiverem passado pelo espojadouro, mais híbrido será o Lobisomem.
No Brasil, o Lobisomem é frequentemente descrito como uma mistura de homem com cachorro e porco. Em Mato Grosso do Sul, o memorialista Hélio Serejo aponta: “Alguns lobisomens (metade porco, metade cachorro) passam pelos caminhos arrastando grossa corrente. […] Cada elo da corrente representa uma transformação. A cada transformação, a corrente ganha mais um elo. O barulho das correntes contamina os arvoredos e cercas de arame, que começam a repetir o barulho em eco”.
Existe ainda outra versão recolhida por Serejo, na qual o Lobisomem não apenas é um híbrido, mas também solta chamas: “nas calmas noites de lua cheia sem vento e sem ruídos, costuma aparecer lobisomem (metade porco, metade cavalo petiço) de pelos arrepiados, com um profundo buraco na cabeça, que expele fumaça e fogo a todo instante, e duas peludas e enormíssimas orelhas, que se arrastam pelo chão, produzindo um estrépito violento, como o de tempestade quebrando galhos”.
Conta Serejo que certa vez o lobisomem atacou um pelotão de soldados revolucionários na fronteira com o Paraguai. Por mais que todos o tivessem atacado, ainda assim os derrotou facilmente. “porque antes havia se reborqueado no espojador onde estivera ‘refrescando o corpo’ um boi chifrudo, um cavalo e um porco, e, como nestas circunstâncias lobisomem vira fera terrível, de força descomunal, escorraçou a soldadesca audaciosa e destruiu o forte”.
Na hora de correr o fado, o Lobisomem a tudo ataca e devora. Cadáveres, cachorros, carniça e até excrementos de animais. Maria do Rosário fala também em melado, gordura de sabão e sangue humano. Ataca e devora gente, mas especialmente as crianças não batizadas. É por isso inclusive que vive rondando mulher grávida, já que o filho na barriga ainda é pagão.
Nos dias em que não está transformado, o lobisomem sofre muito do estômago. Vomita constantemente, botando para fora a porqueira de que se alimentou enquanto fera. Por isso é que dizem ser sempre amarelo, fraco e com olheiras profundas.
O lobisomem corre como o vento. Alguns dizem que o próprio vento indica a iminência da chegada do Lobisomem. É como escreve Serejo: “Sendo inteiramente preto, se confunde com as trevas, raramente era visto. Sabia-se de sua presença pelos malefícios que praticava e por um vento enraivecido e quente que antecedia sua presença. Vento que chama lobisomem, abrindo caminho, é vento que tudo esturrica, matando plantações e secando nascente.
Existem algumas maneiras de desencantar a criatura. Como se dizia em Portugal: “quebra-lhe o fado fazendo-lhe sangue no rabo” (1880). Arrancar sangue do Lobisomem em uma luta justa acaba com o fadário. Em algumas versões, isso é mais difícil: apenas uma gota de sangue deve ser tirada. Por isso recomenda-se o uso de um alfinete. Cascudo conta a história de um homem atacado por lobisomem que lutou com ele durante a noite toda. Cansado, já sem energia para levantar a faca, usou um galho de aroeira para furar o monstro e encerrar sua transformação.
Ainda assim, é preciso cuidado. Os homens medrosos que se deixam morder pelo lobisomem adquirem o seu fadário. Se o sangue do lobisomem tocar seu oponente, ele também se tornará lobisomem. A única pessoa que pode fazer isso sem que sofra a transformação é a própria esposa do lobisomem. Outra opção é queimar as roupas que o monstro deixa para trás. Maria do Rosário encontrou ainda outra alternativa: surrar o lobisomem com duas cordas de fumo, amarrando uma terceira em seu pescoço.
LOBISOMEM TOURO
Tipo: Desafio
Elemento: Peleja
"Bala de prata? Isso é coisa de cinema..."
Condição de Vitória:
A) Some mais de 16 PFs do seu lado do campo e derrote a carta em combate.
B) Arrisque um ataque Tudo ou Nada quando somar metade do valor.
Efeito:
Esta carta não tem efeitos adicionais
Artista: Berjê
Fontes
– LIMA, Maria do Rosário de Souza Tavares. Lobisomem: assombração e realidade. São Paulo: Escola de Folclore, 1983
– MACHADO, José Homem. O folclore da Ilha do Pico. Horta: Núcleo Cultural da Horta, 1991.
– SEREJO, Hélio. Lendas de Mato Grosso do Sul. In: SEREJO, Hélio. Obras Completas vol. VIII, Campo Grande: Instituto Histórico Geográfico, 2008a.
– ______. O Lobisomem. In: SEREJO, Hélio. Obras Completas vol. I. Campo Grande: Instituto Histórico Geográfico, 2008b.
– VASCONCELLOS, J. Leite de. Tradições populares de Portugal. Porto: Livraria Portoense de Clavel & Cia, 1882