Feijoada

FEIJOADA

Relatório

Mais do que um prato, a feijoada é cultura! O feijão com embutidos, pedaços de porco, é apenas um fragmento da tradição. A verdadeira feijoada completa tem como acompanhamento não apenas o arroz, a couve e o torresminho. O prato é acompanhado da reunião para o preparar e servir; marca de um momento especial para a família e os amigos.

Existem duas desinformações correntes quanto a este prato típico. O primeiro diz que a feijoada é resultado da culinária das senzalas, uma vez que – segundo esta versão – os ricos ficavam com as partes nobres do porco, enquanto os miúdos eram destinados aos negros escravizados. Isso não é verdade. A alimentação fundamental nas senzalas era feijão com farinha. Carne-seca, quando muito.

Miúdos, de todos os tipos, são amplamente aproveitados pela culinária portuguesa como iguaria. Não é sem motivo que no livro de receitas “Cozinheiro Nacional”, de 1860, encontramos iguarias como o pudim de orelhas de porco, preparado com 20 unidades dos pertences suínos.

A segunda desinformação que passou a circular com frequência é de que a feijoada não seria um prato típico brasileiro. Os advogados desta versão dizem que, “na verdade”, já existiam outros pratos compostos por feijões (ou favas) com carnes e miúdos. Fala-se, por exemplo, do cassoulet francês (feito com feijões-brancos, cenoura e frango) ou da fabada asturiana.

Esta interpretação também está incorreta e é centrada numa falsa ideia de que só existe uma cultura “verdadeira”, e as demais são variações menores. Em verdade, historiadores apontam que o feijão já era amplamente utilizado na Europa desde a Idade Média – mas era um feijão diferente, o faséolo, que era branco com um “olho” preto. Com as expansões coloniais, outros grãos foram se espalhando pelo mundo, transformando os pratos a partir das conjunções irrepetíveis de cada região.

A feijoada é uma criação brasileira, inspirada pelos costumes portugueses. O hábito de comer cozidos, utilizar carne-seca, louro, e de refogar alho e cebola é uma herança lusitana. Dos indígenas, temos o consumo de feijão com farinha de mandioca, dois ingredientes de fácil transporte, que foram popularizados com a colonização. A junção dos hábitos forma um prato único.

Câmara Cascudo aponta que é no século XVIII que o arroz começa a substituir a farinha de mandioca como refeição principal, criando o binômio “arroz com feijão”. Sendo a feijoada uma evolução do feijão do dia a dia, ela ganha ares de familiaridade, mas com a distinção da festa, do momento especial. Feijoada é comida, mas é encontro, modo de fazer e de experienciar.

Curioso é ver, também, as formas como a nossa feijoada inspirou outros pratos. Em alguns países africanos, como o Benin, é conhecida a “féchouada”, um cozido de carne com molho de tomate, feijões-brancos e leguminosas. A influência é inegável, mas o prato continua sendo típico para estes países.

FEIJOADA

Tipo: Saberes

Habilidade:
Seu oponente está fazendo o quilo e não poderá enfrentar o Desafio por um turno.

Efeito: Pausa

Citação: "O filho da Dona Maria comeu feijoada e foi brincar na piscina. Já viu, né? Tadinho…"

Artista: Mayara Lista

Carta de Feijoada. Com ilustração em tom rosa, mostrando um homem de camisa regata amarela e uma mascará de bate-bola erguida na cabeça. Ele está enchendo um prato com feijoada. Ele segura um prato com uma mão e uma concha com a outra, várias panelas com ingredientes da feijoada em cima de uma bancada.

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Fontes

– BITELLI, Fábio; JUREMA, Maria Luiza. Feijoada: origem e considerações acerca de um patrimônio cultural imaterial. Comportamento, Cultura e Sociedade, v. 7, n. 1, 2019, p. 20-35.
– CASCUDO, Luís da Câmara. História da Alimentação no Brasil. São Paulo: Global, 2023.
– MACIEL, Maria Eunice. Uma cozinha à brasileira. Estudos Históricos, v. 1, n. 33, 2004, p. 25-39.