Rasga Mortalha

RASGA MORTALHA

Relatório

Rasga-Mortalha, Suindara, Coruja-de-Igreja. Todos são nomes para o mesmo animal; uma coruja branca de rabo pontiagudo, cujo nome científico é Tyto Furcata. O nome popular pela qual é conhecida se deve ao som do seu canto, estridente e lúgubre, que lembra o som de um tecido rasgando. Qual tecido? A mortalha; a manta que cobre os cadáveres durante o funeral. 💨

Dizem que esta ave tem canto de mau agouro, que anuncia a morte de alguém da família. É comum mandar espantar as Suindaras, para evitar que alguém doente na casa piore de uma hora para a outra. Só não vale fazer mal para o bichinho, viu? Se você quer afastar uma Rasga-Mortalha, basta entoar “Viva os noivos!”, que ela vai embora.

A relação entre corujas e o sobrenatural, entretanto, não é exclusividade desta espécie; encontra-se no próprio nome científico que caracteriza a família destes animais. Existem duas, as Tytonidae (onde está a Suindara) – que vêm da onomatopeia grega para coruja, tyto (τυτώ), e as chamadas “corujas verdadeiras”, que são da família Strigidae. O nome vem de “Strix” ou “Estrige”, um monstro mitológico. O lastro remete à mitologia grega e está ligado a uma maldição. Dizem que Polifonte era uma linda moça que, apesar de sua beleza estonteante, preferiu seguir a deusa caçadora Artemis em vez da bela Afrodite. Polifonte saiu da casa de seus pais e decidiu viver nas montanhas; e, em algumas versões, ela o faz para permanecer virgem.

Irritada, Afrodite lança sobre ela um feitiço que a faz entregar-se aos ursos, com quem copula e engravida. Enojada, Artemis também a renega, o que faz a mulher voltar para a casa dos pais e dar à luz dois gigantes devoradores de homens. Quando os deuses decidem dar um basta naquela situação, Ares sugere que a família seja transformada em pássaros. Polifonte, assim, torna-se uma Estrige – uma grande coruja, cuja presença traz mau agouro e indica a proximidade da guerra. Em Ovídio, fala-se também que a estringe chuparia sangue de crianças, assombrando-as pela noite.

Esse lastro imaginário aproxima muitos elementos, como a própria figura da bruxa. São frequentes as narrativas de mulheres-bruxas capazes de se transformar em aves, especialmente corujas. Ao mesmo tempo, também se diz que uma criança que não se desenvolve, vive adoentada, está sofrendo de “bruxedo”, causado pela visita frequente de bruxas durante a noite.

Em nosso país, exemplo claro desta transformação é a Matinta Pereira. Apesar de existir um pássaro com este nome, da família dos cucos, e de onde se deriva o assobio da visagem, é comum que se fale que a bruxa Matinta vira pássaro preto (como corvo) ou mesmo Rasga-Mortalha. No México e na fronteira com os estados unidos, fala-se muito da Lechuza.

Cascudo registra, no verbete para “Coruja”, em seu dicionário: “Menino, recordo-me do tiroteio promovido pelos criados alarmados pelo insistente canto duma coruja, estando meu pai acamado. Finalmente trouxeram a ave morta, os grandes olhos abertos, para o próprio quarto do doente, aos gritos de alívio: ‘Foi você quem morreu, agoureira!’. Meu pai faleceu quarenta anos depois. Como todo velho sertanejo, dizia não acreditar no canto da coruja, mas não gostava de ouvi-lo”.

Hoje, muitos trabalhos de conscientização vêm sendo feitos para que estes animais não sejam mortos à revelia. Aquele que deseja se ver livre do animal, melhor fazer um esconjuro. A coruja é uma grande caçadora de ratos, cobras, e uma aliada dos humanos no controle desses animais.

RASGA MORTALHA
Pontos de Força: 2
Pontos de Vida: 2

Tipo: Visagem
Elemento: Vento

Habilidade:
Quando esta carta é invocada, você deve tirar Cara ou Coroa. Se acertar, escolha uma carta, em campo, para ir para o Beleléu.

Efeito: Quebranto

Citação: "'Viva os noivos!'. Mainha sempre gritava isso quando aparecia essa coruja."

Artista: André Vazzios

Carta de Rasga Mortalha, com ilustração mostrando um ambiente interno com parede de tijolos. Uma coruja em uma janela olhando para um caixão com um corpo coberto. Flores e três velas sobre e próximas ao corpo. Encostado na parede a tampa do caixão.

Baixe a imagem em HD

Fontes

– CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo: Global, 2002.
– OLIPHANT, Samuel. The story of the strix. Transactions and Proceedings of the American Philological Association, n. 1, v. 47, 1914.
– SANTOS, Carlos et al. Do mau agouro à arte: a coruja no imaginário popular. Revista de Educação do IDEAU, v. 10, n. 22, 2015.